"Hoje no Brasil são mais de 1 milhão de pessoas expulsas do lugar onde viveram por causa das obras para construção de hidrelétricas", disse a coordenadora nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Rosana Mendes, no debate sobre a luta de famílias atingidas pelas barragens, que aconteceu segunda-feira (24) e contou com a participação da deputada federal Vanessa Graziottin (PCdoB-AM).
Com o tema "O crescimento econômico, com a necessidade cada vez maior de novas fontes de energia elétrica, deixa vítimas pelo caminho", o evento foi promovido e exibido pela TV Câmara e levantou uma série de questões, incluindo ações do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e alternativas para o modelo energético brasileiro. "Teoricamente, a criação das barragens foi pensada para melhorar a vida da população. Mas não é isso o que acontece - milhares de pessoas são afetadas. Para se construir as hidrelétricas, é preciso ter a licença ambiental, mas isso não basta: deveria ter também o relatório de impacto social", diz a deputada.
Segundo ela, há também a questão dos custos: "No projeto das obras está colocado o custo sobre as indenizações das famílias que moram no local onde a construção será feita. Esse custo é repassado aos brasileiros na conta de luz. Porém, 80% das famílias não recebem o dinheiro. Algo está errado e tem que se mudado. Essa discussão envolve a todos", explica a deputada.
Para Rosana, esse problema não é uma questão de matriz energética e sim do sistema capitalista. "Os estudos que o governo faz para a construção das barragens nunca envolvem a população. Esse sistema está sendo feito para garantir produção das multinacionais. Com isso, os atingidos são expulsos, não recebem indenização, não podem utilizar a água dos rios e ainda pagam mais caro pela energia utilizada. Enquanto o preço de um kW consumido pela Vale do Rio Doce custa R$ 0,03, o cidadão precisa pagar R$ 0,45 pela mesma quantidade de energia", argumenta.
PAC - Durante o debate, também foram discutidos projetos do PAC relacionados ao tema. "Tudo aquilo que busca o desenvolvimento não é ameaça, desde que seja feita da maneira correta. A Amazônia guarda mais de 60% de toda capacidade de geração de energia para o todo o país. O PAC não atrapalha, ele vai distribuir renda, porém é preciso transparência e supervisão da sociedade", explica ela.
Para a coordenadora do movimento, é preciso mais do que projetos. "O programa não foi construído com o povo. São 400 famílias que nunca foram avisadas sobre as ações. Não há programa satisfatório de crescimento sem diálogo. Queremos de fato o desenvolvimento, mas é preciso estipular para quem ele será feito e como ele deve ser desenvolvido".
(
Amazonia.org.br, 25/03/2008)