O governo da África do Sul organizou uma serie de atividades pelo Dia Mundial da Água, comemorado no sábado, enquanto as população se preocupa com a deterioração dos serviços sanitários e o fornecimento seguro desse recurso. Até fevereiro deste ano, o termo “crise nacional” não se aplicava ao setor da água na África do Sul. Havia problemas localizados, mas poucos pensavam que pudessem estender-se a todo o país.
Entretanto, o principal partido de oposição, a Aliança Democrática (AD), e o órgão regulador do setor nuclear divulgaram com poucas semanas de diferença dois informes respectivos criticando a capacidade do Departamento de Água e Florestas para cumprir adequadamente suas funções. Este organismo alertou o governo de que a água jogada fora nas explorações mineiras está entrando nas camadas subterrâneas. Também informou que vegetais e peixes coletados perto da cidade de Johannesburgo estavam contaminados com urânio.
O estudo da AD diz que uma combinação de fontes de água contaminada com um inadequado manejo de represas, cloacas e unidades de tratamento levaram a uma situação em que nosso fornecimento de água está sob uma séria ameaça” o porta-voz do partido para assuntos ambientais. Gareth Morgan, acusou as autoridades de ignorarem a crise. Segundo o documento, não se dá atenção às conseqüências ambientais da atividade industrial por disputas burocráticas dentro do governo. O comentário fazia referência à disputa entre o Departamento de Água e o de Minerais e Energia sobre a regulamentação da atividade mineira.
Além disso, o informe destaca que o manejo errado das represas do país diminui a quantidade e a qualidade da água disponível para o consumo. A ministra de Águas e Florestas, Lindiwe Hendricks, admitiu que apenas 160 das 294 represas atendem aos padrões modernos de segurança. A maioria tem entre 30 e 50 anos. Os dois estudos, junto com uma matéria de pesquisa no semanário Sunday times, teve grande impacto na visão do público sobre o fornecimento de água, que se soma a uma crise energética.
A companhia elétrica da África do Sul havia alertado o governo sobre um problema de escassez de eletricidade que agora é sentido em todo o país, mas não foi ouvida. Muitos se perguntam se não acontecerá o mesmo no caso da água, o que abriria a porta para uma catástrofe nos próximos meses. Hendricks reiterou que não existe nenhuma crise. No último dia 11 a ministra falou no parlamento para dissipar os temores sobre problemas com a água e destacou que aqueles que a criticam apresentam dados incorretos.
“A desinformação apenas criará um pânico desnecessário e desagradável. Estou certa de que ninguém quer isso. Os que falam de crise deveriam contar com fatos e informação que os apóiem antes de utilizar termos dessa gravidade”, afirmou a ministra. Hendricks também falou de projetos que serão realizados nos próximos anos, que incluem a construção de uma nova represa para atender as necessidades da província de Gauteng, o coração industrial do país, que estará concluída em 2019. A ministra reconheceu que existem alguns problemas com a água e explicou rapidamente como pretende solucioná-los.
Mas, ao se referir ao tema mais grave, as deficiências das redes de esgoto e estações de tratamento, afirmou que a responsabilidade por seu manejo é das autoridades municipais. “A água que bebemos é segura e fica cada vez mais segura. Nosso planejamento é idôneo e nossas represas também são seguras”, garantiu a ministra. Depois de falar aos legisladores, Hendricks começou uma viagem para promover a semana da água, que tinha por objetivo conscientizar a população sobre sua importância na vida cotidiana e a respeito das razoes pelas quais se deve proteger, rios, lagos e represas.
Hendricks assistiu a uma “cúpula” da água, onde discursou perante 300 delegados sobre os planos oficiais para garantir a disponibilidade de água no futuro. Nessa reunião lançou uma campanha chamada Masimbambane, ou água para o crescimento, que se realizará em conjunto com a União Européia, para financiar projetos em diferentes regiões do país. Nesse mesmo dia, a ministra uniu-se a um numeroso grupo de estudantes em um centro de ciências para promover entre eles a conscientização sobre as questões relacionadas com a água. O governo também distribuiu “pacotes” de informação sobre a semana da água as estradas do país.
(Por Steven Lang, IPS, 24/03/2008)