Área de 1,6 mil hectares consumida pelo fogo durante 30 dias volta a ser abrigo de aves, tartarugas, preás e outras espécies
O espetáculo da natureza toma proporções emocionantes numa área de 1,6 mil hectares de Lomba Grande, bairro rural de Novo Hamburgo, que foi cenário de uma das maiores tragédias ambientais da região, em 2004. Durante 30 dias a área formada por um imenso banhado, centenárias figueiras e grande biodiversidade foi devastada. Morreram centenas de animais, outros foram obrigados a migrar porque as chamas consumiram a vegetação que servia de hábitat para a fauna.
A área está em plena recuperação e volta a ser moradia de tartarugas, preás, lagartos e até de filhotes de jacaré, entre outros. Com juncos medindo mais de 2 metros de altura e algumas figueiras renascendo das cinzas, a regeneração é considerada quase um milagre diante dos estragos causados pelo fogo. Em alguns locais a temperatura chegou a mais de 1.500 graus, inviabilizando qualquer aproximação na tentativa de conter as chamas. Da catástrofe resta a lição da natureza que, sozinha, está fazendo sua parte.
Os responsáveis pelos danos ficaram impunes. Devido à falta de provas, o inquérito foi arquivado pelo Ministério Público. O fogo começou da queima de uma roçada. Na época bombeiros de diversas cidades trabalharam voluntariamente no combate ao incêndio, que se espalhou a partir do dia 28 de dezembro de 2004. 'Foi uma luta desesperada contra algo que se mostrou poderoso demais para ser contido com os recursos que tínhamos na época', lembra o biólogo André Breitenbach, da Secretaria de Meio Ambiente de Novo Hamburgo.
O monitoramento aponta a presença de mais de 40 espécies de aves com ninhos. Há registro de filhotes de diversas espécies de répteis. Capivaras também podem ser avistadas na área onde a vegetação conseguiu vencer a desmineralização do solo.
Uma figueira centenária teve toda a copa queimada, mas no caule encarvoado surgem brotos. 'Ela morreu e está renascendo, mas o ciclo foi quebrado, causando um trauma que ficará para sempre e deixará vestígios em todas as outras gerações de vida que surgirem no lugar', diz o biólogo Jackson Müller, que trabalhou no incêndio e atuou como perito junto ao MP.
(Por Sílvia Trovo, Correio do Povo, 24/03/2008)