Como único brasileiro convidado a participar de recente seminário internacional realizado na Índia sobre a importância das florestas plantadas na mitigação das mudanças climáticas naquele país, julguei oportuno dividir um pouco do que lá ouvi e algumas de minhas convicções sobre o assunto.
A Índia está fortemente inclinada a fomentar o cultivo de plantas que tenham a possibilidade de produzir biocombustível e florestas produtivas que possam absorver CO2, resolvendo diversos problemas no país, como o suprimento de madeira sólida, carvão, celulose e papel, e a geração de emprego e industrialização. A ONU, pela convenção do clima, reconheceu o florestamento e o reflorestamento como meios de baixo custo para combater as mudanças climáticas e, por isso, reconheceu as florestas plantadas como um dos mecanismos de desenvolvimento limpo (CDM) no Acordo de Marrakesh.
Presente na reunião, o ministro do Meio Ambiente da Índia, Namo Narayan Meena, indicou que seu presidente aprovou o início do plantio de pinhão-manso em áreas de 500 mil hectares de terras do governo para, em seguida, implantar cerca de 12 milhões de hectares, procurando atrair empresas privadas para essa segunda fase. É importante lembrar que a Índia, com 1 bilhão de habitantes, tem de ter cuidado redobrado com sua produção de alimentos. O Ministério do Desenvolvimento Rural tem sob sua responsabilidade 306 milhões de hectares, dos quais 173 milhões estão cultivados, e o restante é considerado terras erosivas ou não aráveis, portanto, aptas à produção de biocombustível e de florestas plantadas. O governo indiano já distribuiu 380 milhões de mudas de pinhão-manso aos fazendeiros, sem custo, e 80 prensas para a produção do óleo, com garantia de compra do produto. Os resultados deixam a desejar, mas é um primeiro passo.
O segundo plano da Índia no combate ao aquecimento global é a implantação de florestas de rápido crescimento. Dispõem de 64 milhões de hectares de terras degradadas e de 50 milhões de hectares de terras costeiras ou inclinadas. Pensam em cobrir essas áreas com árvores, privatizando essas terras e desenvolvendo tecnologias. Suas primeiras florestas de eucalipto, plantadas pelo governo com pouca tecnologia e assistência técnica, têm produtividade de não mais de cinco metros cúbicos/ha/ano, enquanto no Brasil já se chega a dez vezes esse valor. Com tecnologia, é possível que possam alcançar uma produtividade entre 12 e 15 metros cúbicos/ha/ano.
Saí da conferência com a sensação de que o Brasil tem tudo para usar o caminho no combate ao desmatamento, gerando mais biomassa, mais energia, mais produtos de madeira, maior uso das terras degradadas, mais negócios; enfim, resolver diversos problemas com uma única solução. Temos 200 milhões de hectares de pastagens e somente 5,5 milhões de florestas plantadas, que geram riqueza de quase 4% do PIB. Imaginem o que significam 20 ou 30 milhões de hectares de florestas plantadas em absorção de CO2 e possibilidade de redução do desmatamento! A biomassa gerada é renovável, diferentemente do petróleo, do gás e mesmo da energia hidráulica, que será dependente da chuva cada vez menos intensa.
(Por Carlos Aguiar,
Gazeta Online, 24/03/2008)
Carlos Aguiar é diretor-presidente da Aracruz Celulose e membro do Conselho Deliberativo do Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação.