Estoques baixos no Rio, onde bebê de apenas 7 meses morreu, podem levar a mais mortes
O número de mortes por dengue no Rio pode aumentar caso o HemoRio (Instituto Estadual de Hematologia) não consiga superar em quase 50% o número de doadores de sangue. Na segunda-feira passada, a diretora do instituto, Clarice Lobo, viu chegar a apenas 50 o estoque de bolsas de plaquetas - componente do sangue necessário para a coagulação usado no caso do tipo hemorrágico da doença. As 50 bolsas são suficientes para suprir a necessidade de cinco ou seis pacientes adultos.
"O estoque ficou muito, muito baixo. Não deixamos de atender, mas, se tivéssemos sete pacientes, nosso estoque não teria sido suficiente", afirmou. No Estado do Rio, foram confirmadas 48 mortes pela doença desde o início do ano, dos quais 20 pelo tipo hemorrágico. Até quinta-feira, foram confirmados no Estado 35.901 casos - 23.555 só na capital. Ontem, uma menina de sete meses morreu na capital com suspeita de dengue.
Normalmente, uma pessoa tem entre 150 mil e 400 mil plaquetas por milímetro cúbico de sangue. Mas a doença provoca queda brusca desse número e a transfusão pode ser a única solução para evitar a morte. Normalmente, o HemoRio recebe cerca de 400 doadores por dia, mas, na atual circunstância, seriam necessários 600.
"Não caiu o número de doadores, mas a demanda de plaquetas subiu entre 30% e 50%. Não podemos fazer estoque das plaquetas, porque, ao contrário das hemácias, que duram 42 dias, elas não podem ser estocadas por mais de cinco dias. Além disso, um adulto precisa de sete a nove bolsas de plaqueta em cada transfusão. Por isso estamos conclamando a população do Rio a doar sangue."
Segundo Clarice, apesar de, em caso de emergência, ser possível trazer plaquetas de outros Estados, o principal é focar na cultura da doação. A partir da semana que vem, um ônibus vai rodar a cidade para chegar mais perto dos doadores.
Jorge Luiz dos Santos Brito, de 26 anos, tirou um tempo de seu dia ontem para doar sangue para uma vizinha. Ela está internada no Hospital Juscelino Kubitschek, em Nilópolis, com dengue hemorrágica. "Vim por um apelo do pai da Aline, minha amiga e vizinha. Esse é um momento que a gente tem que ajudar, estamos vivendo uma epidemia. Tenho dois outros amigos que estão com dengue."
FILAS E FALTA DE LEITOS
Não muito longe dali, Lindalva Tomás de Freitas, de 35 anos, esperava na fila do Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio, para descobrir se estava com dengue. Com dores no corpo, febre e enjôo, mal conseguia falar. O marido, Cleovaldo Joaquim, de 37 anos, estava revoltado. "Estamos aqui há mais de quatro horas e nos informaram que tem apenas um médico."
O bebê de 7 meses que morreu quarta-feira com suspeita de dengue estava internado no Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo. O boletim médico indica Ana Clara Gonçalves morreu de dengue, segundo a diretoria do hospital, mas o caso ainda não foi confirmado. Das 48 mortes registradas até agora, 24 são de crianças menores de 12 anos.
Manoel Carvalho, diretor da Clínica Perinatal de Laranjeiras e do Centro Pediátrico da Lagoa, principais maternidades e emergências pediátricas da zona sul do Rio, disse que já faltam leitos na cidade.
"O Centro Pediátrico tem um Centro de Terapia Intensiva (CTI) com 11 leitos e, semanalmente, estamos com 3 ou 4 ocupados por crianças com a doença. Semanalmente, recusamos pelo menos dois novos casos que precisam de internação em CTI."
(O Estado de São Paulo, 22/03/2008)