Com oito mil quilômetros de costa, o Brasil pode sofrer grandes impactos com o aumento do nível dos oceanos. A preservação das áreas ainda não construídas é hoje a melhor maneira de adaptação para as cidades costeiras, uma vez que há pouco o que se fazer com relação às áreas já edificadas. “É um problema difícil e complexo, mas com uma boa gestão pode ser levado adiante”, afirma o geólogo Norberto Olmiro Horn Filho, que coordena o Curso de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina.
A faixa mínima de 50 metros de distância dos mares para construções urbanas estabelecida pelo Projeto Orla é citado por Horn como exemplo a ser seguido para proteger as cidades de mudanças nos níveis dos oceanos.
O Projeto Orla, criado em 2001 pelo Ministério do Meio Ambiente, identifica as principais demandas na orla brasileira e propõe ações para preservar os ecossistemas e promover um crescimento urbano sustentável, que responda aos desafios do uso e ocupação de forma desordenada e do aumento dos processos erosivos. Hoje, 58 municípios em 14 estados participam do projeto.
Horn esclarece que é preciso preservar toda a zona costeira, que, além da orla, é composta pela planície adjacente (área terrestre até 60 metros de altura do nível do mar) e pela plataforma continental, a porção dos fundos marinhos que começa na linha de costa e vai até a profundidade de 200 metros.
Caminhando em direção contrária às adaptações diante de um mundo aquecido, alguns países ainda insistem em desafiar os limites da Terra, construindo grandes ilhas artificiais. Este é o caso do Aeroporto Internacional de Chubu, no Japão, e de dois arquipélagos de Dubai – Palm Island, em formato de uma gigantesca palmeira, e The World, em formato do mapa múndi.
Somente o arquipélogo The World possui 931 hectares e criará 232 quilômetros de orla, usando 320 milhões de metros cúbicos de areia do mar.
Ao apresentar imagens de projetos como este, o geólogo indaga se as escolhas feitas hoje são sustentáveis.“Será que as cidades costeiras estão sustentavelmente adaptadas para as variações do mar? E a população está preparada?”, questiona.
Horn destaca que, ao longo dos últimos 65 milhões de anos, houve variações no nível do mar com aumentos naturais e sem a influência antropogênica. Porém com o aumento da temperatura observado atualmente e o processo de aceleração do derretimento do gelo nos pólos, a situação muda. “Eu gostaria de pensar que é um processo natural, mas estou inclinado a pensar que é artificial, ou seja, causado pelo homem”, afirma.
(Carbono Brasil, 20/03/2008)