(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
impactos mudança climática br
2008-03-24

No segundo dia do seminário “Impactos das Mudanças Climáticas sobre Manaus e a Bacia do Rio Negro”, especialista alerta para o risco de se focar em preocupações importadas ou hipóteses futuristas quando o assunto é a influência das mudanças climáticas na saúde humana. Para o médico Ulisses Confaloniere, do Comitê de Saúde do IPCC, o problema a ser debatido é atual e localizado: a população brasileira já é, em geral, muito doente. A realidade nacional, alarmante, tende a piorar com as alterações globais do clima.

As mudanças climáticas agravarão problemas de saúde já existentes. Eis a principal mensagem que o médico Ulisses Confaloniere passou nesta quarta-feira (19) às pessoas que acompanharam o segundo dia do seminário “Impactos das Mudanças Climáticas sobre Manaus e a Bacia do Rio Negro”. O evento está sendo realizado na capital amazonense pelo Instituto Sócioambiental (ISA), com apoio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS) e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Manaus (Semma).

“Há 300 milhões de casos de malária por ano no mundo. Em 2007, a região do Alto Rio Negro teve 17,1 mil e Manaus, 34,1 mil, uma quantidade absurda”, informou o médico. “As pessoas me perguntam se, com as mudanças climáticas, a malária chegará a São Paulo ou se surgirá uma doença nova, desconhecida. Temos que nos preocupar com o que já existe: entre três e quatro milhões de pessoas morrem por ano de diarréia. É essa população pobre, assim como os 1,5 milhão de famílias da Amazônia que dependem diretamente dos recursos naturais para sobreviver, que estará mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas”, ponderou.

Confaloniere fala com propriedade: ele coordena o Comitê de Saúde do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) – um órgão formado por cientistas do mundo inteiro, que oferece subsídios para as decisões tomadas no âmbito da Convenção sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Na avaliação dele, a opinião pública brasileira é erroneamente influenciada por preocupações importadas do hemisfério Norte. “Nos trópicos, o fator ambiental determinante na transmissão de doenças é a chuva, não a temperatura. Aqui já é quente durante o ano inteiro. Se a temperatura média passar de 24ºC para 27ºC, os transmissores da dengue e da malária vão agradecer. Mas, se continuar como está, eles também gostarão”, brincou. “O aumento de 3ºC na temperatura vai fazer um mosquito sair da África e pousar na França? Essa é uma discussão da Europa, não nossa”, sentenciou.

Alguns modelos climáticos apontam que a Bacia do Rio Negro deverá ficar mais seca entre 2050 e 2100, além de mais sujeita a eventos extremos, como a seca de 2005. Se isso acontecer, de acordo com Confaloniere, a reprodução do mosquito da malária pode ser prejudicada. “Nossos estudos mostram que no início e no fim da estação chuvosa, os casos de malária em geral aumentam, porque há mais água empoçada, ideal para reprodução do mosquito. Durante a cheia, a água tende a lavar as larvas. Já se a seca for muito forte, podem sobrar poucos reservatórios para o mosquito se reproduzir”, detalhou.

Ele acrescentou, porém, que a relação entre clima e doenças tropicais é influenciada por outros fatores, como as políticas de saúde e o uso da terra. “Nas margens de igarapés com grande ação humana, por exemplo, há poças durante o ano inteiro”, afirmou o médico. Em sua opinião, o grande desafio dos gestores de saúde brasileiros é conseguir fazer planejamentos de médio e longo prazo, diante das urgências cotidianas do setor. “O Ministério da Saúde ficou de fora do Comitê Interministerial para Questão das Mudanças Climáticas, criado pelo governo federal”, lamentou . “Eu posso até imaginar o motivo. Ele tem que gerir o SUS, a fila na porta do hospital. Vai conseguir se preocupar com mudanças climáticas? Não, ele vai se ocupar do paciente que quer quebrar a porta do hospital porque sua mãe morreu sem atendimento médico".
 
Outras visões sobre a questão
Entre os cerca de 100 participantes do seminário - representantes governamentais, da iniciativa privada, pesquisadores, integrantes de organizações da sociedade civil e de movimentos sociais – a presença de lideranças indígenas da Bacia do Rio Negro é marcante. Com eles, além de um olhar diferenciado sobre o tema das mudanças climáticas, vêm lições de uma relação de respeito entre ser humano e a natureza. “Na nossa concepção, não existe matéria sem vida. O deus Tuyuka da criação afirmou `A Terra é nossa mãe´. Na religião cristã, o Criador disse ao homem ´dominai a Terra e submetei tudo o que nela existe´”, comparou Higino Tenório, líder Tuyuka do Rio Tiquié.

Os povos do Alto Rio Negro relacionam as variações anuais do clima a 12 constelações que revezam periodicamente sua influência sobre a Terra. “Estamos pesquisando por que a fartura de recursos naturais tem diminuído. Nosso estudo é guiado pela astronomia”, contou Aprígio Azevedo, também do Rio Tiquié, do povo Tukano. Ele deu sua entrevista em Tukano e foi traduzido por um colega do mesmo povo, Manuel Azevedo.

As alterações relatadas por Higino e por Aprígio coincidem com as observadas pelo povo Baniwa, no rRio Içana. “As mudanças climáticas entre nós são evidentes, quando conversamos com os mais velhos da comunidade. A piracema não acontece mais no tempo devido, o que diminui o estoque de peixe. Já a floração aumentou de freqüência: a gente come a mesma fruta várias vezes”, explicou Juvêncio Cardoso Baniwa. Ele acrescentou que no Rio Içana as comunidades estão elaborando planos de manejo dos recursos pesqueiros, do cipó e do arumã (fibra amazônica). “A gente tem que se preparar. Se o rio secar muito, sem igapó, não tem reprodução de peixe. Então, como vai ser para nossos filhos?”, pergunta o jovem Baniwa.

Sugestões para amenizar os impactos na Bacia do Rio Negro
Divididos em grupos de trabalho, os participantes analisaram mapas e estudos técnicos a fim de apontar as áreas mais críticas da região e discutir formas de reduzir os efeitos do aquecimento global. O resultado dessa integração será um documento que vai propor, ao governo e à sociedade, ações e políticas públicas locais indispensáveis para a manutenção da sociobiodiversidade da Amazônia.

No último dia do evento, quinta-feira (20/3), serão realizadas mais discussões entre os grupos de trabalho para identificar as vulnerabilidades da Bacia do Rio Negro frente às mudanças climáticas. À tarde, as sugestões serão consolidadas em plenária, para a produção da agenda de recomendações, que será divulgada no encerramento. Entre as medidas indicadas estarão políticas de adaptação dos ribeirinhos diante do impacto das mudanças na navegabilidade do rio e no abastecimento das cidades mais distantes, por exemplo.

(ISA, 19/03/2008)

 


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -