"O carvão deverá permanecer como uma das mais importantes fontes de energia primária nos próximos 40 anos, ultrapassando o petróleo como fonte dominante de suprimento mundial após 2015". Estas são as declarações do vice-presidente da Royal Dutch Shell PLC, Jeremy Bentham, num comunicado à imprensa em Londres, dia 14 de fevereiro, sobre os estudos de cenários energéticos para 2050. Bentham ratifica a posição que a ABCM vem relatando e que tem impactos em nossa matriz energética, já que importamos gás e hoje fala-se em térmicas a carvão importado no Nordeste brasileiro. Na visão da Shell, a demanda por petróleo e gás, particularmente nos países asiáticos (China e Índia, especialmente), será crescente e o pico de produção poderá ocorrer entre 2015 e 2020. Bentham afirma que a era do petróleo e do gás de produção fácil e barata está acabando.
O carvão, por sua vez, continuará crescendo porque é de fácil produção e transporte, barato e abundante, com suas reservas concentradas (76%) em grandes potências como EUA, China, Índia, Austrália e Rússia. A importância do carvão como energia é inegável, mas também o é a sua participação como insumo, via carboquímica, para várias indústrias incluindo fertilizantes (amônia, uréia, sulfato de amônia), combustíveis líquidos (diesel, lubrificantes, etc). A crise de energia no Cone Sul está na pauta e sem perspectiva de solução a curto prazo. A Bolívia, sem condições de honrar seus contratos de gás com Argentina e Brasil. A Argentina precisando de energia brasileira para passar seu inverno e o Brasil dependendo de São Pedro. O Uruguai está negociando a compra de energia com a Tractebel Energia, o que viabiliza uma térmica a carvão em Candiota (RS), onde existe a maior reserva de carvão do Brasil.
Por Fernando Luiz Zancan, Presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral.
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Diário Catarinense, 24/03/2008)