Um invento que chegou a ser tachado como de fundo de quintal tem tudo para ser a nova fonte de riqueza do pequeno município de Frei Rogério, na Serra Catarinense. O Estado, o Brasil e até outros países aplaudem a idéia. O autor: o agricultor e mecânico Luiz Carlos Maximiano, 54 anos. O projeto: uma máquina que transforma sementes de girassol em biodiesel.
Tudo começou há aproximadamente quatro anos, quando Luiz e o prefeito de Frei Rogério, Antônio Moacir Darol, conversavam sobre a queda no movimento econômico do município, que chegou a ter o dobro dos atuais 2,6 mil habitantes, em decorrência de crises na agricultura.
Ambos decidiram se empenhar na busca por alternativas para evitar o êxodo rural, e Luiz, durante as suas pesquisas, leu que, durante a Segunda Guerra Mundial, muitos veículos militares eram abastecidos com óleo puro. A informação o atraiu e dela surgiu o grande negócio.
A máquina começou a ser construída na própria oficina de Luiz. Em três hectares, ele plantou girassol e, em 2006, colheu nove toneladas. Em um ano, produziu mais de três mil litros de óleo, utilizados em um trator e uma caminhonete de sua propriedade. A economia de combustível é de 30% por veículo e os motores passaram a ter maior rendimento. Só que, mesmo com esses benefícios, Luiz precisava de mais. Das sementes que utilizava, ele extraía 35% de óleo, pouco para tocar o projeto em frente.
Nova variedade possibilita extração de 50% de óleoO poder público ajudou, e uma nova variedade de girassol foi encontrada, possibilitando a extração de até 50% de óleo. Com o cereal certo, a máquina foi sendo aperfeiçoada com a assistência de um engenheiro.
Hoje, ela produz entre 20 e 200 litros de óleo por hora, numa média de 2,3 quilos de sementes para cada litro. O diferencial do equipamento, que funciona com energia elétrica, é a produção de óleo apenas com a decantação e a filtragem, sem uso de produtos químicos.
A primeira máquina foi vendida para a prefeitura de Ponte Alta, para uso nos veículos do município. Depois disso, Luiz não parou mais de comercializar. Preparado para produzir uma unidade por dia, ele pretende chegar a cem até o fim do ano.
Saiba mais- O cultivo de sementes de girassol para a produção de biodiesel traz uma série de vantagens ao agricultor. Além de produzir o seu próprio combustível para abastecer os veículos, o dinheiro que ele gastaria nos postos ficará em sua propriedade, para ser usado em outros investimentos.
- Com mais uma fonte de renda, o agricultor tende a ficar no campo. O girassol pode ser cultivado durante a entressafra, não havendo a necessidade de ocupar áreas de outras culturas.
- O solo e o clima da Serra Catarinense são propícios ao cultivo de girassol, que, além de ser transformado em óleo, fornece, com os seus resíduos, rações complementares ao gado.
- O mercado de biodiesel está em expansão, já que o número de veículos cresce a cada dia no mundo inteiro.
- A produção de biodiesel no Brasil é incentivada pela Lei 11.097/2005, que o introduz na matriz energética brasileira. O percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado no país foi fixado em 5%, percentual a ser alcançado em oito anos. Dentro de três anos, o percentual já deverá ser de 2%.
Duas prefeituras mostram interesseNa semana passada, Luiz fechou negócio com as prefeituras de Frei Rogério e Rio Rufino, além de um agricultor de Lebon Régis. A administração municipal de Bela Vista do Toldo também mostrou interesse.
Os municípios devem ceder as máquinas a associações de agricultores, com a possibilidade de haver parcerias no fornecimento de óleo para as frotas das prefeituras.
Outros cinco equipamentos serão comercializados no Uruguai. Cada um custa R$ 35 mil. A adesão por parte do país vizinho se deu através do consultor de negócios Otílio Lorenzo, que passou a representar o projeto no Mercosul.
Conhecedor do biodiesel, ele alega que nada chamou tanto a atenção dos uruguaios como a máquina de Luiz, uma vez que aquela nação é carente de energia renovável e tem o girassol como carro-chefe da agricultura.
- Fiz uma farta pesquisa e obtive cerca de 20 orçamentos no Brasil inteiro, e encontrei equipamentos, menos eficientes, por mais de US$ 500 mil cada. O invento do Luiz é bem melhor e custa muito menos. A idéia é implantar 250 máquinas em dois anos no Uruguai.
A Secretaria do Desenvolvimento Regional de Curitibanos assumiu o compromisso de levar técnicos do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) ou da Agência de Fomento de SC (Badesc) para analisar uma possível linha de crédito a fim de tornar viável uma indústria destas máquinas em Frei Rogério.
O primeiro plantio oficial de girassol no município, já como parte do projeto, ocorreu no ano passado. Em 25 hectares, foram produzidas 62,5 toneladas, numa média de 2,5 toneladas por hectare. Uma das inúmeras vantagens do girassol é que pode ser cultivado na entressafra - plantio recomendado entre 15 de julho e 15 de agosto - possibilitando a produção de outras culturas no Verão.
O óleo produzido pela semente de girassol serve também para o consumo humano. No entanto, a máquina precisa ser construída em inox e, a de Luiz, é de aço carbono, o que inviabiliza esta utilização.
(Por PABLO GOMES,
Diário Catarinente, 24/03/2008)