A prática de descartar óleo de cozinha pelo ralo da pia pode parecer uma simples tarefa do trabalho doméstico. Mas o ato, aparentemente normal, é responsável pelo entupimento de tubulações nas redes de esgoto, aumentando em até 45% os custos de tratamento. Buscando conscientizar sobre a destinação correta do resíduo, iniciativa privada e poder público investem em formas de educar a população. Por meio de convênios firmados com prefeituras municipais, uma indústria de reciclagem de óleo vegetal de Guaíba tem disseminado a educação ambiental em escolas públicas do Estado. A iniciativa vem colhendo resultados positivos na região Metropolitana.
Nos últimos anos, a empresa Ecológica realizou oficinas em mais de 50 instituições de ensino, sobre os prejuízos causados pelo descarte incorreto de óleo de fritura. 'Buscamos a conscientização das crianças e jovens, pois eles representam mudanças no presente e no futuro', apontou o empresário Paulo Roberto Lobato, um dos proprietários da Ecológica. Nas palestras, os alunos são alertados sobre as conseqüências do despejo do resíduo em pias, vasos sanitários e bueiros.
O impacto ambiental é tão grande que estudos científicos apontam que um litro de óleo é capaz de contaminar um milhão de litros de água. Além disso, os estudantes conhecem o processo de reciclagem da gordura oxidada, que começa com a filtragem e a separação das impurezas (resíduos, farinha, sal) e da água. O óleo reciclado pode ser destinado a fabricantes de sabão em barra e líquido, tintas, massa de vedação e biodiesel.
Somente em Porto Alegre, estima-se que sejam descartados 400 mil litros de óleo vegetal ao mês. Grandes geradoras de gordura oxidada são as redes fast-food, restaurantes, hotéis e condomínios. Na Cidade Baixa, emaranhados de gordura podem ser vistos nas bocas de lobos próximas a barzinhos do bairro. 'Já multamos estabelecimentos que jogaram óleo de fritura nas redes de esgoto.
O problema é que, na maioria das vezes, a infração é cometida à noite, sem que ninguém veja', relata Roberto Carlos Boeira da Silva, um dos encarregados pela Capatazia do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) situada na Rua da República, no bairro. Mesmo assim, a unidade é a que recebe a maior quantidade de óleo de fritura, entre os 41 postos de recolhimentos espalhados pela cidade. A média de entrega por mês, naquela capatazia, é de 200 litros.
Segundo o vice-presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Porto Alegre, Ricardo Hitter, a entidade tem trabalhado para estimular o setor a aplicar boas práticas no manuseio dos alimentos. 'Embora muitos estabelecimentos ainda resistam a adotar medidas conscientes, alcançamos avanços significativos nos últimos anos', avalia.
(Por Joana Colussi, CP, 22/03/2008)