Os números da dengue no Rio de Janeiro crescem a um ritmo assustador. Na quinta-feira foram confirmados 2.053 novos casos, o que supôs uma alarmante média de 1,4 por minuto. A prefeitura recomendou ontem que as crianças usem calça comprida, meias e sapatos fechados. A idéia é reduzir a possibilidade de serem picadas nas pernas pelos mosquitos, que, segundo os especialistas, têm o hábito de voar a poucos centímetros do solo.
Até ontem, eram mais de 23 mil os casos registrados na Capital. Somados com os detectados em cidades vizinhas, chegavam a mais de 35 mil desde janeiro. Segundo relatório da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, dos incluídos na lista de mortos, 29 casos ocorreram na cidade do Rio, onde, segundo especialistas, uma combinação de forte chuva e deficiências de saneamento básico criaram o hábitat perfeito para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, que transmite a doença.
De acordo com dados oficiais, metade dos doentes corresponde a crianças de até 14 anos, dos quais 25 já morreram. Um dos mais recentes casos confirmados foi o da menina Ana Clara Gonçalves, sete meses, que morreu na madrugada de ontem em um hospital da zona norte da cidade. A situação é a pior desde 2002, quando a dengue matou cerca de 90 pessoas em solo fluminense - 54 delas viviam na Capital.
Forças Armadas devem auxiliar combate à doença
As autoridades estaduais aceitaram que estão diante de uma epidemia, qualificação à qual o prefeito do Rio, Cesar Maia, ainda resiste. O secretário de Saúde, Sergio Cortes, admitiu a existência da epidemia e pediu "desculpas" aos doentes pela "Via-Sacra" em hospitais abarrotados que não são suficientes para atender a tantos pacientes.
À delicada situação nos hospitais, que tiveram de pedir, esta semana, camas adicionais ao Exército, somou-se agora a ameaça de que se esgotem as reservas de plaquetas, necessárias para tratar os doentes. Calcula-se que, caso o ritmo atual seja mantido, as reservas se esgotem em breve.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, criou um "gabinete de crise", que se reunirá na segunda-feira para estudar como auxiliar as autoridades regionais. As Forças Armadas devem ser convocadas para auxiliar com a montagem de hospitais de campanha e o combate ao mosquito.
Saiba mais
O QUE É
A dengue é uma doença infecciosa que, na forma mais branda, tem cura. A forma mais grave (dengue hemorrágica) pode ser fatal. É transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti (acima), parecido com um pernilongo comum e que geralmente ataca durante o dia
SINTOMAS
Forte dor de cabeça, dores nas articulações, fraqueza, falta de apetite, febre alta, dor no fundo dos olhos, náuseas, vômitos e diarréia. Podem surgir manchas avermelhadas semelhantes às da rubéola.
ALERTA SEGUE NO RS
De acordo com o diretor do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Estado, Francisco Paz, 59 anos, apesar de o verão ter acabado sem registro de caso de dengue autóctone (contraído no Estado), não pode haver descuido. Ele alerta que ainda haverá períodos de calor e chuva, que favorecem o surgimento do mosquito e cita o ano passado, quando o primeiro caso autóctone foi em abril.
(ZH, 22/03/2008)