Durante seis anos, os pesquisadores do departamento norte-americano de administração de drogas e alimentos (FDA) examinaram a questão: a carne e o leite de animais clonados se distinguem de algum modo dos de animais criados por meios tradicionais?
A resposta veio no início de 2008: um claro "não", na forma de um relatório de mais de mil páginas. A Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) apóia este julgamento. E Heiner Neumann, perito em clonagem do Instituto Federal alemão de Agricultura, sediado em Neustadt, assegura: "Segundo o que sabemos no momento, nem os próprios clones nem seus descendentes apresentam diferenças em relação aos animais produzidos convencionalmente, em qualquer das características estudadas."
Caros demais para o açougue
Segundo estimativas da Secretaria de Agricultura dos EUA, existem no país apenas cerca de 600 animais de gado clonados, a maioria, bovinos. Quando um agricultor se decide a clonar uma de suas crias, normalmente o fim é preservar ou mesmo multiplicar as virtudes genéticas de um animal premiado.
Para tal, colhem-se algumas células do corpo de um touro reprodutor, por exemplo. Seu DNA é retirado e injetado num óvulo cujo núcleo foi previamente extraído. A célula é plantada no útero de uma fêmea "de aluguel" e, ao desenvolver-se, se transforma numa cópia exata do touro original.
Seria uma pena realizar todo este processo para abater o animal. E caro demais, observa Mark Walton, da firma estadunidense ViaGEN, especializada em clonagem. "Clonar um bovino, quer touro, quer vaca, custa, em média, 13.500 dólares. Trata-se, portanto, de um instrumento reprodutor, o mais desenvolvido de que dispomos no momento."
Iguais aos animais "normais"?
Assim, ao que tudo indica, tão cedo os clones, em si, não irão parar no balcão refrigerado do supermercado. A regra não se aplica, contudo, a suas crias, geradas por meios naturais. Nestas, a FDA não descobriu, tampouco, quaisquer irregularidades. O que de forma alguma significa que os consumidores aceitarão os "produtos clonados". Segundo enquete do International Food Information Council, mantido pela indústria de alimentos norte-americana, apenas 10% "muito provavelmente" estariam dispostos a comprar derivados de animais clonados.
Entretanto, justamente nos Estados Unidos não se prevê qualquer forma de etiquetação especial para a carne de animais clonados – afinal, ela não diferiria em nada da carne comum. Porém um banco de dados, análogo ao desenvolvido durante a epidemia de "síndrome da vaca louca" (BSE), poderia ajudar a prover alguma segurança para os compradores.
O método irlandês
O cientista irlandês Patrick Cunningham, da Universidade de Dublin, descreve o método criado por ele. De cada animal clonado se retira uma pequena amostra de células, que é identificada através de um perfil genético. Se considerarmos o código genético de cada ser vivo como um longo texto, são as diferenças entre algumas letras que distinguem um indivíduo de outro. Onde um animal apresenta um "A", outro terá um "T", um terceiro talvez um "C". Os pesquisadores irlandeses lêem, portanto, 30 trechos desse texto, de cuja combinação formam o perfil característico de cada animal.
"Na Irlanda começamos com este método em 1996, em caráter experimental. Hoje, as três maiores cadeias varejistas do país adotam o sistema. Isto significa que quase 75% da carne bovina em circulação passou por controle." E aqui fica evidente também o problema de um tal sistema: somente se todos participarem, o consumidor poderá ter segurança – quase – total.
(Por Arndt Reuning, Deutsche welle, 22/03/2008)