Com a maior reserva de água doce do planeta, o Brasil desperdiça água em níveis alarmantes, joga 80% dos seus resíduos em mares e rios e apenas metade da população brasileira tem acesso ao saneamento básico. A situação do país, que possui 12% da água doce existente no mundo, entrou novamente em debate por ocasião do Dia Mundial da Água - lembrado no sábado (22/03) -, que este ano tem como foco questões relativas ao saneamento, principalmente nos países em desenvolvimento.
De todo o volume existente no mundo, segundo diversos organismos internacionais, apenas 2,5% são de água doce. No caso do Brasil, a metade de suas reservas está nos rios amazônicos que, apesar de passarem por regiões com a menor taxa de população por quilômetro quadrado do país, não estão livres de ameaças. A poluição dos rios da Amazônia preocupa os ambientalistas que culpam, em grande parte, a atividade de mineradores ilegais que jogam nos rios o mercúrio utilizado para a garimpagem de ouro.
Estudos da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), formada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname, Peru e Venezuela, dizem que a mineração ilegal utiliza entre um e três quilos de mercúrio para cada quilo de ouro extraído. A OTCA calcula que, nos últimos 50 anos, foram despejadas cerca de 1.300 toneladas de mercúrio no Rio Amazonas e em seus afluentes.
O desastre, que para muitos ambientalistas começou nos anos 40, levou muitas espécies de peixes para a lista de animais em extinção. Nas regiões mais ricas do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, a fonte de poluição vem principalmente da falta de tratamento do esgoto e do insuficiente sistema de saneamento básico. Segundo a Associação Brasileira de Entidades do Meio Ambiente (Abema), 80% dos resíduos industriais e mesma porcentagem de esgoto residencial que conta com redes de saneamento acabam no mar ou em rios, lagoas e mananciais.
Para reduzir esse problema, o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou um ambicioso plano de infra-estrutura que prevê investimentos de aproximadamente US$ 20 bilhões em obras de saneamento até 2010. Grande parte desse dinheiro será dirigida às favelas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, cidades onde falta saneamento e também consciência, segundo o alerta de especialistas do uso adequado da água.
Um recente relatório da organização H2C, que trabalha com a elaboração de estratégias para um uso mais racional da água, estabeleceu que cada brasileiro gasta, em média, cinco vezes mais água do que realmente precisa. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que cada pessoa utilize 40 litros de água por dia, no Brasil, esse consumo é de 200 litros por pessoa, disse o relatório da H2C.
Devido a relatórios semelhantes, o Governo vem alertando sobre a necessidade de conservar a água, e encontrou apoio nos meios de comunicação e empresas privadas, que aderiram à campanha adotando mecanismos para melhorar o uso. A busca por mais consciência gerou momentos curiosos, como nesta semana, quando Pedro Bial, apresentador do Big Brother Brasil, alertou um dos participantes por ter deixado uma torneira aberta por 17 minutos enquanto lavava roupa. EFE ed/rr/an
(Efe, Ultimo Segundo, 22/03/2008)