A cada 20 segundos morre uma criança vítima das "péssimas condições" de saneamento que afectam cerca de 2,6 mil milhões de pessoas, lembrou hoje o secretário-geral da ONU, Ban Ki-monn, a propósito do Dia Mundial da Água, que se assinala este sábado e que este ano coincide com o Ano Internacional do Saneamento.
Num comunicado, Ban Ki-moon destacou a importância de adoptar medidas em relação a uma crise "que afecta mais de uma em cada três pessoas no mundo". Na mensagem, lembrou que em cada ano 1,5 milhões de vidas de crianças perdem-se devido a algo que "perfeitamente se poderia prevenir". Os "deficientes serviços de saneamento", conjugados com a "falta de água potável e uma higiene inadequada", são, segundo o responsável, factores que contribuem para o "terrível número de mortes a nível mundial".
"Para os que sobrevivem, as oportunidades de terem uma existência saudável e produtiva são diminutas. As crianças, especialmente as raparigas, não podem frequentar a escola, e doenças relacionadas com a falta de higiene impedem os adultos de realizar um trabalho produtivo", lamentou Ban Ki-moon na mensagem.
O secretário-geral da ONU sublinhou também que a comunidade internacional ainda "está muito longe" de reduzir para metade o número de pessoas sem acesso a condições de saneamento básico até 2015, objectivos assumidos através dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em 2000.
África subsariana só alcançará objectivos em 2076
Segundo especialistas da ONU, 2,1 mil milhões de pessoas ainda vão carecer de serviços de saneamento básico em 2015, sendo que, ao ritmo actual, a África subsariana só alcançará esse objectivo em 2076. Apesar de se terem registado progressos, Ban Ki-moon afirmou que os avanços têm sido dificultados pelo "crescimento demográfico, a pobreza generalizada, o investimento insuficiente e, sobretudo, a falta de vontade política".
"Se a comunidade internacional estiver determinada a agir, pode adoptar muitas medidas", frisou o responsável máximo da ONU, lembrando que, em 2005, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável daquela organização delineou medidas que visavam garantir progressos significativos, responsabilizando, em primeiro lugar, os governos dos países afectados.
O apoio internacional para criar um ambiente político propício à mobilização de recursos financeiros e à transferência de tecnologias para os países que delas necessitam foram outras medidas traçadas pela Comissão. "Se aceitarmos o desafio, as consequências positivas irão além de uma melhoria do acesso a água potável. Estima-se que cada dólar que se investe em água e saneamento se traduz numa actividade produtiva no valor de sete dólares", disse Ban Ki-moon. "Isto sem contar os benefícios incalculáveis que a redução da pobreza, a melhoria da saúde e a subida do nível de vida representam", acrescentou.
(Lusa, Ecosfera, 19/03/2008)