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Hilda Zimmermann direitos indígenas terras indígenas
2008-03-20

Relembrando as reminiscências da infância, a ambientalista e indigenista octogenária Hilda Zimmermann emocionou-se no lançamento do documentário que lhe faz homenagem. O filme Hilda, um curta-metragem com aproximadamente 40 minutos de duração lembra parte de sua trajetória de vida, como o empenho para ajudar a eleger o líder indígena Mário Juruna a deputado federal, seu primeiro contato com José Lutzenberguer e o relacionamento com a bailarina internacional e indigenista Felícitas Barreto.

O filme foi lançado para uma platéia de aproximadamente 50 convidados no Memorial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Uma das fundadoras do movimento ecológico no Estado, Hilda Zimmermann, nunca abandonou a luta em defesa dos povos indígenas. Ela mesma revela que essa consciência começou em 1921 quando seu pai, um comerciante de Santa Rosa, dava abrigo aos indígenas que passavam pela cidade. "Lembro que meu pai sempre dizia", conta Hilda, "essa terra é dos índios, nós somos invasores e temos que devolver a terra a eles. Em certa ocasião eu disse a ele: vou devolver a terra aos índios para a sua sobrevivência porque a sabedoria deles é milenar. Mais antiga que a dos europeus".
 
Naquela época, relembra ela, os índios acampavam nas terras de sua família em Santa Rosa. Hilda cresceu vendo seus pais distribuírem roupas e alimentos para os índios. Quando se tornou adulta, tentou aprender a língua Guarani. Mais tarde, nos anos 70, em plena ditadura militar, fundou a Associação Nacional de Apoio ao Índio (ANAÍ), da qual foi a primeira presidente. A gratidão dos índios por sua luta foi tanta que até hoje os Xavantes, Kaiapós e outras etnias a chamam de Mãe.

Holocausto de 500 anos
E Hilda não cansa de afirmar: "No Brasil, houve um holocausto de 500 anos. Quando fundamos a Anaí, tínhamos 0,07 por cento de população indígena, enquanto a Bolívia possuía 65 por cento. Todos os países da América Latina tinham mais indígenas do que o Brasil".

Aos 85 anos de idade, Hilda Zimmermann quer ainda ver concretizado um sonho: assistir a posse da atual ministra do Meio Ambiente Marina Silva como presidente do Brasil. "Essa é uma idéia fantástica", fala emocionada, quase deixando correr as lágrimas. "Os Estados Unidos está na iminência de ter seu primeiro presidente negro, Barack Obama. Aqui no Brasil, temos que iniciar uma grande campanha para que a Marina Silva seja presidente do país. Em uma reunião ocorrida em janeiro deste ano em Londres (Inglaterra), um grupo de cientistas identificou a Marina Silva como uma das 50 pessoas capazes de salvar a vida na terra. Então nós precisamos fazer uma campanha para que ela se torne presidente. Ela tem o apoio da Inglaterra, da França, da Alemanha, Itália e da China. Os chineses adoram a Marina Silva. Vamos dar essa chance para ela?".

Serviço para a sociedade
O filme foi rodado pela cineasta, artista e escritora Radharani. E sua imagem sobre o trabalho de Hilda Zimmermann mostra bem o espírito do documentário: "A Hilda cumpriu um papel social muito importante relacionado à ecologia e aos povos indígenas. Mas poucos até hoje reconheceram esse trabalho. Quando pensei em rodar o documentário, vi que essa seria minha função, uma vez que conheço essa mulher batalhadora há muitos anos e estaria fazendo um registro muito importante para a história do nosso estado e do país. Uma prestação de serviço para a sociedade".

A própria Radharani reconhece que seu documentário é simples, feito com recursos escassos. "Achei que era necessário, mesmo sem recursos, por cumprir com um papel na história. Não podíamos deixar se perder essa bela história que a Hilda fez", acrescenta. O filme, na voz da própria autora, conta casos inéditos, como a eleição do cacique Mário Juruna, único deputado federal indígena a ser eleito até hoje. Mostra a verdade sobre o Juruna que não foi contada na mídia.

Também relata a amizade de Hilda com Felícitas Barreto, uma indigenista e artista internacional muito talentosa que trabalhou ativamente pela causa. Mostra, ainda, a relação da ambientalista e indigenista com José Lutzenberger, Augusto Carneiro, Magda Renner e outros pioneiros ecologistas. Finalmente conta a situação dos índios Suiamissú, um caso inédito de genocídio e grilagem de terra. E a Hilda participou ativamente para solucionar o caso. O documentário não poderia deixar de relembrar também a história da Anaí, entidade que Hilda ajudou a criar nos anos 70 com o objetivo de mostrar o descaso e a discriminação sofridos pelos índios no Brasil.

A artista multimídia Radharani critica a televisão brasileira na cobertura sobre as questões ambientais e indígenas. "Nossa televisão precisa de programas ecológicos e indigenistas, voltados especificamente para os jovens, a fim de produzir educação ambiental. Há uma grande carência nessa área. A TV não tem nada. Se minha geração de 40 anos não produzir, quem vai produzir? A gente ainda tem um legado de cultura ecológica, que as pessoas mais jovens não possuem. E se a gente não produzir, essas questões vão se perdendo cada vez mais. Daqui a pouco acaba a consciência ecológica ou vão deixar a critério da mídia fazer uma educação propagandeada que não cria consciência em ninguém. Eles falam e nada se entende verdadeiramente. Tenho a obrigação de transmitir uma consciência que outras gerações me transmitiram, numa linguagem mais contemporânea", desabafa.

(Por Juarez Tosi, EcoAgência, 20/03/2008)


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