Regiões caracterizadas por apresentarem grande diversidade de espécies de fauna e flora e as mais complexas relações ecológicas tornam-se “regiões-núcleo” para conservação da biodiversidade. A crescente destruição, fragmentação e descaracterização de habitats é a principal causa de perda de biodiversidade do planeta. Biomas brasileiros inclusos na classificação de “hotspots” da biodiversidade mundial, como a Mata Atlântica e o Cerrado, e regiões mega-diversas como a Amazônia brasileira, tornam-se, diante da realidade de degradação dos ambientes naturais, áreas que requerem especial atenção da comunidade científica e dos governantes.
Dentro destas regiões anteriormente citadas, determinados locais apresentam-se como “regiões-núcleo” de biodiversidade. Estas regiões podem ser caracterizadas por possuírem um grande número de espécies e as mais complexas relações ecológicas. Estas premissas correspondem à regiões onde os habitats são extremamente diversos, heterogêneos, seja por fatores topográficos e/ou abióticos, ou pela convergência de eco-regiões. O modelo de “regiões-núcleo” aparece primeiramente na literatura no trabalho de Haffer (1969) que propôs “refúgios” que abrigam maior diversidade de espécies na Amazônia. Variações ambientais ou influência de fatores climáticos e externos podem alterar o padrão de distribuição de regiões núcleo e diversidade de espécies.
No estado do Rio Grande do Sul, duas regiões encaixam-se perfeitamente dentro da definição de regiões-núcleo de biodiversidade. A região nordeste do RS caracteriza-se pelo encontro de Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista e Campos de Altitude (Gonçalves et al., 2007). Essa região apresenta grande diversidade de fauna e flora e altas taxas de endemismo e espécies sob ameaça. No caso do extremo oeste do Estado, onde os Campos e Pampas encontram-se com a Savana (Região do Parque Estadual do Epinilho), também acontece um grande aumento na biodiversidade local.
O modelo também pode ser aplicado a ecossistemas aquáticos, límnicos e regiões costeiras, onde determinados pontos de convergência de habitats também ficam como referência no total de espécies das regiões como um todo. No RS, as regiões adjacentes às lagoas litorâneas, com restingas e dunas, são as principais citadas como de extrema importância biológica (Lahm et al., 2006).
Definir áreas prioritárias para conservação a partir da identificação de regiões-núcleo de biodiversidade pode ser uma importante estratégia para manutenção do maior número de espécies. Preservar corredores ecológicos entre essas regiões-núcleo mantém o fluxo gênico e afasta a possibilidade de populações em isolamento geográfico. A conservação da biodiversidade depende de pesquisas e complexas avaliações biológicas e de eficazes políticas publicas para tornar-se satisfatória.
Os autores:
- (1) Lucas Gonçalves da Silva - Pesquisador – Laboratório de Ecologia PUCRS. Autor também da edição do mapa. (lucas_gonc@yahoo.com.br)
- (2) André Luiz Marchado da Rosa - Pesquisador – INEDE (amachado.rs@terra.com.br)
(Por Lucas Gonçalves da Silva (1) & André Luis Machado da Rosa (2), Ecoagência, 18/03/2008)