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dengue
2008-03-20

Cidade tem 346 confirmações para cada 100 mil habitantes; prefeitura diz que tendência é de queda

Apesar de a prefeitura do Rio não admitir, a cidade vive uma epidemia de dengue, que, de acordo com a classificação do Ministério da Saúde, se configura quando a taxa de incidência é superior a 300 casos por 100 mil habitantes. Desde janeiro até ontem, a capital fluminense registrou 20.269 doentes ou 346 casos por 100 mil habitantes. Representa uma média de 256 registros por dia. Nos bairros onde a situação é mais crítica, a taxa chega a ser 20 vezes maior do que o mínimo necessário para caracterizar epidemia.

Na zona oeste já são 6.968,9 casos por 100 mil habitantes. A situação é crítica também em Camorim, Gardênia Azul e Anil. Alguns bairros da zona norte e região central, como Jacaré e Saúde, lideram o ranking. Ao contrário do que acontece no Rio, no restante do País há uma queda - 40% de redução nas primeiras cinco semanas em relação a 2007.

O prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), em entrevista por e-mail, afirmou que os casos estão declinando. "Os números de confirmação de dengue por exames laboratoriais chegam defasados. Quando fazemos as correções por amostras e exames laboratoriais, confirmamos que o pico se deu entre o fim de janeiro e o início de fevereiro. Neste momento estamos com curva declinante que só podemos confirmar em mais uns dias", diz. "Mas podemos confirmar desde já que os novos casos de letalidade estão caindo com as medidas adotadas", acrescentou.

O diretor-geral do Hospital Estadual Getúlio Vargas, Marcelo Soares, discorda da análise do prefeito. Ele acredita que a epidemia possa aumentar com as chuvas. Soares, que dirige o hospital com o maior número de leitos para pacientes com dengue, disse que cerca de 80% das pessoas chegam à unidade com suspeita da doença. "O pior é que a maioria se confirma, porque nos primeiros sete dias o exame de sangue não detecta a dengue." Soares afirma ainda que a letalidade da doença está maior, atingindo principalmente crianças.

No fim da tarde, a Secretaria Estadual da Saúde atualizou para 32.615 o total de casos neste ano, mas ainda não havia cálculo por 100 mil habitantes. Até ontem, 96 mortes suspeitas haviam sido notificadas no Estado. Dessas, 47 foram confirmados e metade (24) é de crianças. São casos como o da menina Thaissa Vieira, de 6 anos, internada há três dias no Getúlio Vargas. A mãe, Rosana, conta que ela já havia passado pelo posto de saúde, que não diagnosticou a doença, e foi liberada pelo Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, onde mora. "Lá viram que ela estava com dengue, mas não internaram." Como a menina piorou, a mãe procurou outro hospital, onde foi diagnosticada dengue hemorrágica.

Algumas vezes, a dengue não se manifesta com todos os sintomas clássicos - febre, dores na cabeça e no corpo - e acaba sendo descoberta por acaso. O menino Sanderson, de 6 anos, estava com pneumonia e o exame de dengue só foi feito porque ele queixou-se de dores abdominais e apareceram manchas roxas no corpo, sintomas da dengue hemorrágica.

O presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, disse que irá apresentar uma notícia-crime no Ministério Público para tentar responsabilizar as três esferas de governo pela epidemia.

TRANSMISSÃO VERTICAL

Combater focos de água suja, como fossas e valas, com o objetivo de impedir a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, é um "desserviço" à população, afirma o entomologista Ricardo Lourenço de Oliveira, pesquisador do Laboratório de Transmissores de Hematozoários da Fundação Oswaldo Cruz. "Criadouros de água suja não são importantes porque as fêmeas procuram água limpa", diz o pesquisador, autor do livro Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil (Editora Fiocruz). Oliveira pesquisou a transmissão vertical do vírus - quando o mosquito nasce infectado. Segundo ele, experimentos em laboratórios mostram que a taxa média varia de 20% a 40%. Como as fêmeas representam metade dos mosquitos, a taxa de transmissores varia de 10% a 20%. As fêmeas vivem até um mês.

(Fabiana Cimieri e Felipe Werneck, O Estado de São Paulo, 20/03/2008)


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