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energia nuclear nos EUA lixo radioativo
2008-03-20

"É claro, vocês podem vir para Yucca Mountain quando quiserem; assim vocês poderão verificar até que ponto este lugar fica longe de tudo", disse de chofre Allen Benson, o diretor de relações exteriores da organização encarregada da administração dos detritos radiativos americanos. Foi marcado um encontro, portanto, no escritório da organização em Las Vegas, a capital econômica do Estado de Nevada e capital mundial da jogatina. O futuro local de estocagem dos detritos nucleares americanos fica a uma hora e meia de estrada. A região tem uma vocação a lidar com atividades ligadas ao setor nuclear: o local ocupa parte da antiga zona de testes atmosféricos e subterrâneos da bomba atômica. Após termos passado por várias barragens de segurança, aparece a Yucca Mountain, uma montanha que surgiu há 12 milhões de anos de uma erupção vulcânica. A aresta culmina a 1.507 m. Por todos os lados nos arredores, a pedra é roxa e a vegetação amarela; nós estamos em algum ponto do deserto.

É aqui que o governo federal decidiu enterrar o combustível já utilizado, gerado pela centena de centrais nucleares americanas, que fornecem 20% da eletricidade do país, e os detritos provenientes de atividades militares. Alguns produtos de fissão permanecerão radiativos ao longo de milhões de anos. "O objetivo é de isolá-los de maneira permanente", explica Allen Benson. "A nossa intenção é fazer com que, depois de algumas centenas de anos, este depósito possa ser fechado e que ele não precise mais ser vigiado". O que terá advindo dos Estados Unidos depois de tanto tempo? Ninguém é capaz de imaginar, "mas o que importa é que até lá, as pessoas permaneçam protegidas", proclama Benson.

Segundo informa o Departamento da energia, a área de Yucca Mountain foi escolhida porque está "afastada e segura". O lixo nuclear ficará armazenado dentro de 65 quilômetros de galerias subterrâneas, a 300 metros abaixo do nível da superfície, e a 300 metros acima do lençol de água subterrâneo. O contato entre a água e o combustível gasto precisa ser evitado a qualquer custo, uma vez que o elemento líquido é propenso a transportar os nuclídeos radioativos. "Aqui, a média anual das precipitações é de 16 centímetros. A maior parte desta água evapora ou é absorvida pela vegetação", prossegue Allen Benson. "Além disso, a água que se infiltra não está conectada a nenhum lago, rio ou oceano". O lixo nuclear será armazenado dentro de 11 mil cilindros de liga composta por vários metais, que poderão vir a serem recobertos ainda por uma proteção suplementar de titânio. "O conjunto desses equipamentos não começara a enferrujar antes de 80 mil anos", afirma o comunicado do Departamento da energia.

Os habitantes de Nevada e seus eleitos apresentam uma versão muito diferente desta história. O que eles chamam ironicamente de "Screw Nevada Bill" (a "lei que enganou Nevada") foi promulgada em 1987. "Havia um outro local para armazenamento possível, no Texas, que contava 29 eleitos no Senado e na Câmara dos Representantes, e mais um no Estado de Washington, que contava 18 eleitos", relata Steve Frishman, um oficial que foi encarregado deste dossiê pelo Estado de Nevada. "Nós tínhamos três eleitos, e nenhum poder". Segundo os militantes que lutam contra o projeto, se os critérios técnicos tivessem sido levados em conta, a área de Yucca Mountain teria sido desqualificada. "Todos sabem que a água se desloca através da rocha, que está repleta de falhas e de fraturas", afirma Judy Treichel, uma opositora histórica do projeto. "Tudo vai depender da solidez das proteções de metal. Mas, como poderemos ter a segurança de que elas resistirão à corrosão, nas escalas de tempo que estão sendo consideradas?"

Desde 1987, a população de Las Vegas, uma metrópole cuja taxa de crescimento é a mais elevada dos Estados Unidos, passou de 700 mil para 2 milhões de habitantes. Ela acolhe 39 milhões de visitantes por ano. O prefeito chegou a afirmar que os comboios de combustível gasto precisariam antes passar por cima do seu corpo para conseguirem atravessar a cidade. Os índios Shoshone também apareceram para reforçar esta linha de frente. Segundo eles, Yucca Mountain está situado num território que é da alçada da sua soberania.

Contudo, o opositor mais encarniçado é o senador de Nevada Harry Reid, que se tornou em 2006 o líder da maioria democrata no Senado. "Las Vegas encontra-se em pleno desenvolvimento; um acidente teria conseqüências sanitárias e econômicas consideráveis", comentam assessores no escritório do senador em Washington. "Além disso, é arriscado demais transportar a mais perigosa de todas as substâncias conhecidas na terra pelas ferrovias e as estradas do país".

"O nosso senador é poderoso o suficiente para operar cortes todos os anos no seu orçamento", comemora Steve Frishman. Em 2008, o orçamento da organização que administra o lixo radioativo será de US$ 386 milhões (cerca de R$ 660 milhões), contra os US$ 495 milhões (R$ 845 milhões) que haviam sido pedidos, o que equivale a 500 empregos a menos. Com isso, a atividade em Yucca Mountain está no ponto morto. "Havia centenas de pessoas que trabalhavam aqui; atualmente, elas não passam de uma dezena", lamenta Allen Benson. O túnel de teste que deveria servir de porta de entrada para o centro de armazenamento, e cuja construção foi concluída em 1987, não pode mais ser visitado: a organização não dispõe mais dos meios para arcar com os custos nem da iluminação, nem da ventilação.

Por conta da "guerra de guerrilha" judiciária e política que vem sendo travada pelos opositores, os atrasos vão se acumulando. Conforme estipulava o projeto inicial, o depósito deveria ter começado a funcionar em 1998. Se ele conseguir superar todas as etapas daqui para frente, ele será inaugurado em 2020, no melhor dos casos. E, mesmo assim, o assunto não estará encerrado. Isso porque todos os detritos nucleares que se acumularam em território americano ao longo dos últimos sessenta anos mal caberão no local. É preciso desde já prever um aumento da sua capacidade.

Enquanto isso, a fatura vai ficando cada vez mais salgada. Cerca de US$ 11 bilhões (cerca de R$ 19 bilhões) foram gastos no projeto até o momento. As companhias produtoras de energia, que vêm contribuindo para o orçamento da organização e que, por enquanto, seguem obrigadas a estocarem o seu lixo nuclear em 121 centros de produção, já começaram a exigir indenizações perante os tribunais. O Estado federal já ressarciu algumas delas, pagando-lhes US$ 300 milhões (aproximadamente R$ 511 milhões).

A eleição presidencial de novembro poderá ser decisiva para definir qual será o destino final do depósito de Yucca Mountain. Os pré-candidatos democrata Barack Obama e Hillary Clinton adotaram a mesma posição, afirmando que eles questionariam a viabilidade do projeto caso eles sejam eleitos, ao passo que o candidato republicano John McCain o apóia. Por sua vez, David Hassenzahl, o diretor dos estudos ambientais na universidade de Las Vegas, lamenta que o debate entre os que são a favor e os que se opõem ao depósito de Yucca Mountain seja "muito pouco elaborado". "Nós deveríamos colocar novamente em discussão as alternativas possíveis, as quais incluem a estocagem vigiada nos próprios centros de produção", afirma o pesquisador. "Nós deveríamos também voltar a discutir a questão do setor nuclear e das melhores energias para o futuro. Mas nunca ninguém discute esses assuntos. A política energética se resume a um enfrentamento entre lobbies".

(Por Gaëlle Dupont, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 20/03/2008)

 


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