Há quem via no lixão da Caturrita apenas uma montanha de lixo que aumentava dia após dia. Mas, para muito catadores, ele representava o "ganha-pão". Cerca de 250 pessoas trabalhavam lá, conforme a prefeitura. Muitos faziam mais: montavam barracos e moravam no local à espera dos caminhões repletos de rejeitos que os outros não quiseram, mas que, para eles, tinham valor.
Como, desde a sexta-feira, os caminhões que antes iam para o lixão agora são descarregados na Tecnoresíduos, os catadores já sentiram o reflexo da escassez. Ontem pela manhã, somente 10 pessoas ainda catavam no lixão.
- Já não tem quase nada. Ainda venho para tentar tirar ainda alguma coisa, mas a cada dia dá menos - reclama Jorge Luiz da Silva, 38 anos.
A desilusão de Silva tem razões justificadas pelo tempo. Ele trabalha catando lixo na Caturrita há 25 anos. É com esse dinheiro que mantém a mulher e os cinco filhos, na casa onde mora, na Vila Pôr-do-Sol. Sem o depósito do lixo na Caturrita na sexta-feira e no sábado, ele afirma que já sentiu a diferença no bolso. Antes, ele ganhava entre R$ 100 a R$ 120 por semana. Já na última semana, o garimpo de material reciclável rendeu R$ 70. Ontem, Silva foi até a empresa Tecnoresíduos se inscrever para uma das vagas de catador na usina de triagem. Mas foi informado que primeiro terá de ter a documentação em dia.
- Vou tentar uma dessas vagas. Senão, o jeito vai ser arrumar uma carrocinha e catar lixo na rua - lamenta.
Enquanto Silva ainda tentava tirar o sustento do lixo, em um barraco próximo, três catadores já encerraram as atividades. Sem o lixo, eles aguardam uma vaga na Tecnoresíduos. Mas João Gonçalves da Silva, 64 anos, que mora há seis anos em um barraco no lixão, não tinha muita esperança:
- Quero ver se consigo me aposentar. Senão, não sei o que vou fazer. Nós temos vergonha na cara, por isso, a gente não rouba. E, para não roubar, a gente trabalhava aqui.
Vagas - Conforme a Tecnoresíduos, cerca de 150 trabalhadores procuraram a empresa em busca de vagas. No entanto, na primeira seleção, apenas em torno de 40 foram selecionados.
- Eles eram avisados desde 2004 sobre o encerramento das atividades do lixão. Não tínhamos como manter a situação, aquelas pessoas trabalhavam em condições degradantes. E a empresa, infelizmente, tem um número limitado de contratações - afirma o secretário de Proteção Ambiental, Carlos Rempel.
(Diário de Santa Maria, 19/03/2008)