Visitantes de fora da cidade querem vender seus produtos
Os mais de 170 indígenas estão instalados de maneira improvisada e precária em três locais de Santa Maria
É quase impossível não notar a presença dos índios na cidade. Eles praticamente lotaram a boca do Calçadão, além de outros pontos de Santa Maria, com dezenas de cestinhas de Páscoa. Mas eles não estão muito satisfeitos, pois as vendas estariam ruins em função de a data este ano cair em um fim de mês, quando as pessoas estão com menos dinheiro. Somadas aos negócios ruins, estão as condições da moradia provisória.
Segundo o diretor-geral da Secretaria de Assistência Social, Cidadania e Direitos Humanos, Dartagnam Agostini, todos são caingangues. Os 70 vindos de Tenente Portela e da Região Norte estão na gare. Outros 54 ficam no antigo Centro Materno Infantil. Cerca de 50 índios de Ronda Alta acamparam na esquina das ruas Célio Shirmer e Engenheiro Rogério Tochetto, perto da rodoviária. E os índios continuam chegando.
A primeira família a aparecer teria sido a de Cacilda Sales, 49 anos, em 7 de março. Ela veio com três filhas e oito netos atrás de um local para ficar em Santa Maria. Depois, chamaria o resto do grupo. Há oito anos que Cacilda vem vender artesanato na Páscoa e no Natal. Seu grupo ficou no acampamento até a liberação para usar o Centro Materno Infantil, na quinta-feira passada.
Mesmo em locais diferentes, as condições dos indígenas são semelhantes. No acampamento da rodoviária, as barracas de lona estão instaladas perto do esgoto. É lá que eles cozinham e produzem suas cestas. A água, quando não é doada por vizinhos, tem de ser buscada a cerca de quatro quilômetros. No Centro Materno, a água é liberada. Mas as moscas e a sujeira tomam conta do local.
Os índios vendem seus produtos no Centro em cidades vizinhas.
- Eles vêm fazer comércio. Não são pessoas que não têm condição de sustento - afirma Agostini.
A prefeitura cedeu os locais, algumas cestas básicas e atendimento de saúde. Agostini diz que foi oferecido aos indígenas que estão na rodoviária um espaço no Centro Materno, mas eles preferiram ficar onde estavam. Também recusaram propostas para ir para Camobi e para o horto municipal, atrás do Distrito Industrial.
Compensa? - Mesmo com todas as dificuldades, a índia Cacilda garante que a recompensa é boa:
- Foi vendendo artesanato aqui (Santa Maria) que comprei tudo que tenho em casa: geladeira, televisão, máquina de lavar.
Assim como Cacilda, muitos indígenas aproveitam a vinda a Santa Maria para comprar roupas, calçados e material escolar. Eles não pretendem ficar muito tempo por causa das aulas dos filhos.
(Por Brigida Sofia, Diário de Santa Maria, 19/03/2008)