Mais de 200 tratores e centenas de agricultores ocuparam o Centro de Içara, no Sul do Estado, ontem, em protesto contra a abertura de uma mina na comunidade de Santa Cruz, área rural do município.
Os agricultores querem garantir a qualidade da água e a segurança das famílias.
No início da noite, os manifestantes realizaram um ato simbólico para a entrega de um documento aos vereadores com a finalidade de pedir novos estudos ambientais sobre a viabilidade de instalação do empreendimento.
O tratoraço iniciou com concentração à tarde. Até alcançar o Centro de Içara, os agricultores percorreram um trecho da SC-444. O tráfego foi interditado por alguns instantes com apoio da Polícia Militar (PM).
A manifestação passou pelas principais ruas do município. Durante o percurso, os comerciantes, em solidariedade e apoio ao movimento, fecharam as portas mais cedo.
Os agricultores fizeram barulho e se dividiram em mais de 200 máquinas agrícolas. Nas bandeiras que seguravam, protestos em favor da vida.
À noite, os manifestantes se reuniram em frente à prefeitura e promoveram um ato público com a fixação de cruzes de madeira e acenderam velas. A ação representou a morte do ambiente nas comunidades, caso a mina seja instalada.
Em um ato simbólico, um projeto de lei de iniciativa popular foi entregue aos vereadores.
Empresa diz que não haverá dano
Durante a sessão na Câmara, os agricultores permaneceram em vigília até ser feita a leitura da proposta que pede a revisão de uma emenda para a instalação de mina de extração de carvão em área de Preservação Ambiental (APA).
Além do projeto de lei, uma ação popular para solicitar esclarecimentos do Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) enviado pela empresa carbonífera será protocolada no Fórum de Içara.
De acordo com o representante dos agricultores no Movimento pela Vida, Nico Matiolla, os moradores das localidades que poderão ser afetadas com os trabalhos de mineração querem novos estudos ambientais. Entretanto, exigem que partam de uma instituição isenta.
- Queremos que outro órgão ateste a viabilidade da mina. O nosso medo é a contaminação da água e que as casas tenham rachaduras - resumiu Matiolla.
Ele acrescentou que, nas próximas semanas, agricultores, Ministério Público Federal (MPF) e as Empresas Rio Deserto, indústria carbonífera responsável pelo empreendimento, devem se reunir para novamente discutir o assunto.
Conforme a assessoria jurídica das Empresas Rio Deserto, todos os estudos feitos a pedido do MPF e da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) comprovam que não haverá alteração na qualidade da água.
A advogada Simoni Quadros Guidi reitera que, de qualquer forma, a empresa, através dos estudos, tem planos de emergência e será responsável por qualquer dano causado ao ambiente.
(Por ANA PAULA CARDOSO,
Diário Catarinense, 18/03/2008)