Fabricantes de materiais de construção se adaptam à nova demanda
O movimento das construções "verdes" está contribuindo para desenvolver um mercado de materiais de construção ecologicamente corretos. Tintas à base de água e plástico reciclado, tubos para instalações hidráulicas feitos com PET, lâmpadas econômicas, sistemas para tratamento do esgoto doméstico e equipamentos residenciais para geração de energia eólica são alguns dos produtos já encontrados no mercado.
Atualmente, há no País 47 empreendimentos em etapa de certificação para obter o selo Leed (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental), dado a construções que seguem princípios de sustentabilidade. "Há um ano, não chegavam a uma dezena. Isso fez com que os fornecedores de materiais para construção começassem a se adaptar a essa nova demanda", diz Nelson Kawakami, diretor-executivo do Green Building Council Brasil, subsidiária brasileira da entidade que fornece os parâmetros para construção sustentável, com sede nos EUA.
Os grandes fabricantes de tintas e vernizes, por exemplo, estão gradativamente substituindo algumas matérias-primas de origem petroquímica na composição de seus produtos. A Tintas Coral, marca do grupo holandês Akzo Nobel, lançou em 2003 os primeiros produtos com solventes à base de água, em substituição aos solventes derivados do petróleo. Com os novos solventes, os produtos emitem menos compostos orgânicos voláteis, responsáveis pelo forte odor da tinta e que podem causar problemas respiratórios. "As vendas dessas linhas de produtos crescem em torno de 60% ao ano. É uma tendência sem volta", diz Mateo Lazzarin, gerente do laboratório de desenvolvimento da Coral.
Os fabricantes de tintas também estão substituindo as resinas petroquímicas pelo PET de garrafas recicladas. A Suvinil começou esse processo em 2000. Em 2006, a empresa também trocou os solventes petroquímicos pelos à base de água. "Queremos estar preparados para o aumento da demanda por produtos mais amigáveis ao meio ambiente", diz Mirian Zanchetta, gerente de propaganda e promoção da Suvinil.
Outro segmento que cresce com a construção sustentável é o de iluminação. A Philips Light, divisão de iluminação do grupo holandês, registra crescimento de 30% nas vendas de lâmpadas econômicas nos últimos cinco anos no Brasil. Mas, apesar do crescimento, ainda há uma barreira cultural a ser superada, diz Yoon Young King, vice-presidente da Philips Light Brasil. "A lâmpada incandescente ainda é mais vendida por conta do seu preço baixo, em torno de R$ 2, apesar da curta vida útil", diz. Embora custem mais, em torno de R$ 10, as lâmpadas fluorescentes têm uma vida útil cerca de oito vezes maior, e consomem até 80% menos.
Alguns empreendimentos também apostam em energias renováveis na busca pelo selo verde. A Altercoop, empresa paulistana que comercializa equipamentos domésticos para geração de energia eólica, foi criada para atender a comunidades isoladas da rede elétrica convencional, mas viu o perfil dos clientes mudar completamente. "Hoje, meus principais clientes são grandes empresas, que estão construindo prédios nos moldes da construção sustentável", diz o engenheiro Ronaldo Alves, fundador da Altercoop.
(Andrea Vialli, O Estado de São Paulo, 18/03/2008)