Se a Prefeitura e a Câmara aceitarem, será o precedente de um novo muro da Mauá erguido para sempre na orla do lago que começa a ser despoluído

Os centenários Internacional e Grêmio são instituições sólidas e prestigiadas na vida social do Rio Grande do Sul, mas a condição não lhes dá direito de receber tratamento privilegiado do Município e do Estado. Segunda-feira (17/03), caros leitores, o presidente colorado Vitório Piffero apresentou, em sessão especial da Câmara de Vereadores, o projeto de um complexo "esportivo, turístico e cultural" na área do Beira-Rio e entorno. Entorno, observem. Trata-se de erguer, entre a avenida Padre Cacique e a beira do lago, um hotel em duas torres com mais de 700 suítes, um pavilhão de exposições de 30 mil metros quadrados (equivale a três quarteirões ou três campos de futebol), um centro de convenções, praça de alimentação, marina e estacionamento.

A proposta é grandiosa, mas seus custos financeiro e social não foram estimados. Apenas foi dito que é "declaração de amor" à Porto Alegre, significa a revitalização da orla do Guaíba e estimula o turismo na cidade. O clube campeão do mundo custeará a reforma do estádio, que começará no segundo semestre, com vistas à Copa do Mundo de 2014, e incorporadores serão responsáveis pelas demais iniciativas. O presidente informou que existem dois interessados, e que muitos outros surgirão, tal a oportunidade. Não há dúvida disso, mas é preciso saber, antes, se o porto-alegrense aceita os prováveis efeitos negativos do projeto.

Por que a exposição ocorreu em sessão especial da Câmara? Porque somente se a legislação for mudada será permitido construir na beira d'água prédios maiores do que a altura da copa das árvores que lá existem. Hoje não pode, há 40 anos não pode. Previdentes, os governantes da capital no passado proibiram construções altas no trecho do Gasômetro até o Veleiros, para evitar que os cidadãos fossem privados da vista e do convívio com o lago, para garantir rigor na ocupação do solo permitida, e impedir novas emissões poluidoras. Aliás, as palavras "poluição" e "meio ambiente" não foram mencionadas na reunião, que antecedeu um encontro reservado, informado por Piffero, dele com os líderes das bancadas.

(Blog Erico Valduga, 18/03/2008)