Nos últimos dois meses, enquanto todo mundo olhava para a Amazônia e o presidente da República questionava os dados sobre o avanço do desmatamento na Região Norte obtidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, permanecia escondido na página do Ministério do Meio Ambiente (MMA) na internet um documento mostrando o quanto já se desmatou no país em razão da ocupação humana e o que resta das vegetações naturais.
A área desmatada da Floresta Amazônica corresponde a 21% do que já foi transformado em pastagens, plantações e cidades no país. De acordo com esse documento, o Mapa da cobertura vegetal dos biomas brasileiros, já se derrubaram no Brasil 2,5 milhões de quilômetros quadrados de vegetação nativa desde o início da colonização pelos europeus. É o equivalente a 30% do território nacional ou 4,5 vezes o da França, um dos maiores países da Europa.
Elaborado a partir de imagens de satélite de 2002, o documento representa a versão mais atual e abrangente do estado da vegetação que cobre o país. Pode ser útil por diversos motivos. Em primeiro lugar, porque permite conhecer o quanto cada um dos seis principais ecossistemas (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Pampas e Caatinga) ainda preserva de vegetação suficiente para manter condições de chuva, qualidade do solo e clima adequados para abrigar vida humana ou animal.
Em segundo lugar, a identificação de quanto ainda existe de cada ecossistema deve auxiliar o Brasil a cumprir compromissos internacionais assumidos nos últimos anos, como a Convenção sobre Diversidade Biológica, que prevêem que até 2010 pelo menos 10% de cada região ecológica do mundo esteja efetivamente conservada.
“Só é possível alcançar essa meta quando se conhece a área ocupada por cada tipo de vegetação”, diz a agrônoma Maria Cecília Wey de Brito, secretária de Biodiversidade e Florestas do MMA. Além de orientar a fiscalização das áreas naturais mais ameaçadas do país e a criação de unidades de conservação, esse levantamento, se repetido no futuro, pode mostrar o impacto do desmatamento na emissão de gás carbônico, associado ao aumento da temperatura do planeta – os dados disponíveis atualmente se baseiam nas emissões de meados da década de 1990.
O levantamento feito pelo ministério reflete cinco séculos de história da ocupação do país moldados pelos desejos e possibilidades dos governantes, dos empresários e dos cidadãos comuns. Representa o que o historiador Caio Prado Júnior chamou de sentido da evolução geopolítica de um povo em seu clássico Formação do Brasil contemporâneo e deveria servir de base para a discussão e o planejamento do que se quer para o Brasil nas próximas décadas.
(Carbono Brasil, 17/03/2008)