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2008-03-18
Em Tenório, escassez de água leva trabalhadores a abandonar cultivo de milho e feijão para se dedicarem à extração do minério

Em Tenório, no Cariri paraibano, não chove há quatro anos.  Com menos de três mil habitantes, o município não tem oferta de emprego e para não passar fome, trabalhadores arriscam as vidas diariamente extraindo caulim nas incontáveis minas da região.

Na atividade, é grande o risco de acidentes.  A escassez de água está levando os agricultores a abandonarem o cultivo de milho, feijão e algodão para se dedicarem à extração do minério, que nos últimos anos se tornou a principal fonte de renda para cerca de 200 famílias.  Ano passado, o índice de perda das lavouras foi de 90%”.  A nossa região é muito produtiva, o problema é que não chove e os pais de família precisam fazer as suas feiras.  Por isso, apesar de ser uma atividade de risco, o garimpo de caulim é uma das únicas atividades disponíveis”, comentou o prefeito Denilton Guedes Alves.

Por ano, a economia local é aquecida com mais de R$ 1,5 milhão arrecadado com a exportação de caulim.  Mensalmente, são extraídas mais de 5 mil toneladas do minério que são enviados para Juazeirinho e João Pessoa, além dos Estados do Ceará, Piauí, Bahia, Santa Catarina e São Paulo.  “Se não fosse o caulim, seria um deus-nos-acuda”, diz o prefeito.

Do total de caulim extraído, 80% se perdem durante o processo de beneficiamento e no final das contas, apenas 800 toneladas são comercializadas.  Cada tonelada é vendida entre R$ 120,00 e R$ 140,00, o que no final do mês dá uma média de R$ 100 mil faturados por cada uma das cinco empresas de beneficiamento do minério que existem em Tenório.

Mineiros trabalham um mês para faturar R$ 200

Tudo começa nas “banquetas” (buraco cavado pelos garimpeiros para a extração do caulim), com o suor e a coragem de mais de 100 homens que trabalham diariamente de cinco a oito horas para conseguir no final do mês uma renda modesta, que varia entre R$ 200,00 e R$ 300,00.

Cada “carrada” de caulim, que equivale a aproximadamente 10 toneladas do minério, é vendida por R$ 85,00.  Uma parte do lucro, R$ 12,00, é repassada ao proprietário da terra onde é feita a exploração.  O restante é dividido entre os quatro garimpeiros que trabalham na mesma banqueta.

Valdomiro Julião de Arruda tem 45 anos de idade, 30 deles dedicados ao garimpo de caulim.  Ele trabalha todos os dias das 5h às 13h, mas o esforço lhe rende apenas R$ 200,00 por mês.  “Esse é o único dinheiro que entra lá em casa.  Se eu parar de trabalhar, a família vai passar necessidade”, comentou, enquanto mostrava a cicatriz no peito, causada por um acidente há alguns anos.  “Eu estava dentro da banqueta quando uma laje caiu em cima de mim.  Fiquei três meses parado, mas depois tive que voltar para as minas.  Tive medo depois do acidente, mas aqui a gente não tem escolha”, disse Valdomiro.

A falta de outras opções de trabalho é relatada pelos garimpeiros como principal motivo para a procura de emprego nas minas.  Janailson Batista Gomes, 21 anos, é pintor, mas quando não aparece serviço, recorre à extração de caulim “para não ficar parado”.  Ele, o irmão mais velho e mais dois colegas garimpeiros chegam à “banqueta” às 4h30 e por volta das 11 horas terminam de encher uma “carrada”.  “Depois que a gente acostuma não é tão ruim”, disse Janailson.

Governo diz que 80% da produção é clandestina

Os lucros poderiam ser mais significativos se a exploração fosse legal.  Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), 80% das minas de caulim do Estado são clandestinas.  “Com isso, deixam de ser recolhidos impostos para os municípios, sem falar nos prejuízos para quem trabalha na atividade, já que não há garantia alguma”, disse Arnaldo Maia, chefe de fiscalização do DNPM na Paraíba.

Com um único escritório na Paraíba, que funciona em Campina Grande, e apenas dois fiscais, o DNPM não tem estrutura para fiscalizar as centenas de minas espalhadas por todo o Estado, não só de caulim, mas de vários outros minérios, como colombita, feldspato, rubim, mica, minério preto, calcário (mármore), ferro, scheelita, talco, amianto, minerais de pegmatitos e quartzito, entre outros.

“Não vamos deixar de fiscalizar as empresas grandes que geram muito mais empregos para se preocupar com alguns trabalhadores, que para não morrer de fome, se submetem ao trabalho pesado e arriscado da extração clandestina”, comentou Arnaldo Maia.  Além de Tenório, existem minas de caulim em Juazeirinho, Junco do Seridó, Assunção e Salgadinho.

Garimpos ilegais não oferecem segurança e mortes são comuns

Improviso - Minério é extraído apenas com uso de pás e picaretas Para trabalhar como garimpeiro nas centenas de minas de caulim da Paraíba, é preciso, antes de mais nada, muita fé em Deus.  A extração, feita de forma improvisada e sem nenhum critério técnico, põe em risco a vida e a saúde dos trabalhadores, todos ilegais.  Não há garantias e eles só podem contar com a sorte.

Por ano, morrem em média três garimpeiros somente na região de Tenório.  E os relatos de acidentes são incontáveis.  Quase todo mundo tem uma história para contar, seja uma experiência pessoal ou de algum parente ou amigo.  “Ano passado, morreu um menino no dia em que completou 15 anos.  Caiu uma barreira em cima dele”, relatou Evilásio de Araújo Souto, dono de uma das cinco empresas de beneficiamento.

Em cada banqueta, trabalham quatro homens.  Dois ficam responsáveis pela escavação e um enche os baldes com o minério e envia para o outro, que fica na parte externa.  Para cavar cada mina, leva-se de duas a três semanas.  Tudo é improvisado.  Não existem técnicas.  Picareta e pá são suficientes para abrir os buracos.  E, claro, muita disposição para enfrentar uma temperatura de até 33º C nos dias mais quentes.

A profundidade das minas varia de 15 a 20 metros, mas algumas possuem túneis imensos, que nem mesmo os garimpeiros sabem precisar a extensão.  Estreitos e escuros, os buracos, que medem aproximadamente um metro de largura por um metro de comprimento, assustam os “marinheiros de primeira viagem”.  A descida também não é das mais animadoras.  Uma barra de ferro ou um pedaço de madeira, presos a uma corda, são utilizados para levar os homens até o subsolo.

A corda, que nem é muito grossa, é presa a um carretel de madeira que é manuseado por quem fica na parte de fora da mina.  O mesmo carretel serve para içar os baldes de caulim retirados ao longo da manhã.  Na banqueta aonde trabalha, essa é a função de Francinaldo Eduardo dos Santos, 22 anos.  Ele chega a puxar 16 baldes por dia, com 80 quilos cada um.  O jovem cresceu vendo o pai arriscar a vida nas minas, mas diz que não tem medo.  “O pai dele sofreu um dos maiores acidentes dessas minas.  Foi há uns 25 anos mais ou menos.  A corda se partiu e na queda, ele quebrou algumas costelas.  Tivemos que tirá-lo numa rede”, lembra Evilásio.

É preciso se equilibrar e segurar firme na corda para não cair ou bater nas paredes.  “A primeira vez que desci deu uma tremedeira nas pernas”, lembra João Paulo dos Santos, 16 anos.  Desde os 13, a rotina dele não muda.  Por volta das 5 horas, ele chega à banqueta e só sai depois de encher uma “carrada” com os colegas.

O segredo, ensinam os mais experientes, é não olhar para baixo durante a descida e evitar olhar para cima depois de chegar ao chão.  Mas, tudo isso é insignificante, se comparado ao risco de desabamentos, que quando não matam, deixam cicatrizes, medo e incertezas.

Os garimpeiros têm seus truques, e mesmo não possuindo conhecimentos técnicos, procuram evitar acidentes, deixando colunas de pedra ou do próprio caulim durantes as escavações para servirem de escoras.  “O problema é que muitos deles acabam derrubando as escoras para terminar o trabalho mais rápido.  E é aí aonde mora o perigo”, disse Evilásio.  A iluminação é improvisada com “gambiarras” em algumas banquetas, mas, na maioria, os homens trabalham à luz de vela.  “Por mês, a gente chega a gastar uns R$ 30 só com vela”, diz João Paulo.

Dificuldades não tiram humor dos mineiros

Nos depoimentos dos garimpeiros, a impressão que se tem é de que eles se acostumaram com a vida que levam.  Talvez pela falta de esperança em dias melhores ou mesmo por comodismo, eles encaram a realidade de forma natural.  Não há sinais de desânimo nem revolta.  Pelo contrário, eles são bem-humorados e tentam transformar as horas de trabalho em momentos de descontração.

Como trabalham ilegalmente, os garimpeiros não têm carteira assinada e nem direitos trabalhistas.  No município, também não existem associação ou cooperativa que reúna os trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho.  O prefeito diz que até já tentou unir a categoria, mas a idéia não saiu do papel.  “Garimpeiro é bicho desconfiado.  Só confia nele próprio”, admite Evilásio.  “A única saída é a união.  Sozinhos, nunca sairemos da estaca zero.  Uma cooperativa, na minha opinião, seria um bom começo”, comentou.

O governo do Estado possui um Programa de Desenvolvimento da Mineração Paraibana, que possui 15 ações para beneficiar 17 municípios da mesorregião do Seridó paraibano, com a participação de 30 entidades.

O programa inclui cursos de lapidação, aquisição de equipamentos, conquistas de mercados e inserção da Paraíba em grandes redes de joalherias.

Segundo o secretário de Turismo da Paraíba, Roberto Braga, o programa foi estruturado dentro do Gerenciamento Estratégico Orientado para Resultados (GEOR).  Com isso, estão previstas ações desde a alfabetização de garimpeiros jovens e adultos, criação de cooperativas, formalização da atividade minerária até a criação do Shopping da Pedra, com o objetivo de capacitar a Paraíba não apenas na exportação de minérios, como também na produção de jóias.

O superintendente do Sebrae, Júlio Rafael, afirmou que um dos objetivos do projeto é que no final de três anos a atividade em toda região seja totalmente regulamentada.

“Estamos desde o início junto com outras instituições para regularizar a atividade na região do Seridó.  A produção do projeto teve a participação dos interessados.  É um projeto muito adequado para passarmos a dar uma racionalização maior da atividade para a produção e distribuição de renda, riqueza e trabalho”, afirmou.

Na última sexta-feira, representantes dos ministérios de Minas e Energia, Ciência e Tecnologia e Integração Nacional, DNPM, reuniram-se na agência do Sebrae de Campina Grande para discutir as ações que estão sendo desenvolvidas pelo Arranjo Produtivo Local da Mineração no estado.

Várias cooperativas já foram criadas, entre elas, a Cooperjunco, com sede em Junco do Seridó, que atenderá 62 cooperados.  O objetivo do programa é regulamentar a atividade, capacitar os garimpeiros e disponibilizar tecnologias para a extração dos minérios.  O programa de mineradores paraibanos, que teve início ano passado, já soma um grande número de realizações junto aos cooperados, como os treinamentos de trabalhadores que utilizam explosivos.

UTILIDADE

O caulim é utilizado na fabricação de cerâmica, azulejo, cal, borracha, porcelanas, cosméticos, produtos de higiene pessoal, papel, tintas, peças sanitárias, plástico, rações, materiais refratários, fertilizantes, tintas, adesivos, cimentos, inseticidas, pesticidas, produtos alimentares e farmacêuticos, catalisadores, absorventes, gesso, auxiliares de filtração, produtos químicos, detergentes e abrasivos, entre outros.

(Por Paula Brito, Jornal da Paraiba, FGV, 17/03/2008)

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