Atenção especial aos seringueiros do Amazonas pelos próximos três anos. Essa é a proposta do governo estadual que, por meio do titular da Secretaria de Produção Rural (Sepror), Eron Bezerra, apresentou, nesta semana, em Manaus, um conjunto de medidas que farão parte do plano de revitalização do setor de cultivo e de extração da borracha no estado.
Entre as propostas estão a ampliação do número atual de seringueiros no Amazonas, a compra e o estoque da produção dos extrativistas que não encontrarem outros compradores, a implantação de uma política de preço mínimo e a instalação, até o fim do ano, de uma beneficiadora de borracha na calha do Rio Purus e outra na do Rio Juruá, duas das regiões de maior produção de látex no Amazonas.
A apresentação do secretário Eron Bezerra foi realizada na abertura do 1º Encontro de Lideranças Extrativistas da Borracha no estado, na terça-feira (11). Durante dois dias, o encontro reuniu 25 seringueiros do interior do Amazonas, que trataram, sobretudo, das melhorias das condições de trabalho desses profissionais e ainda das possibilidades para aumentar a produção da borracha no Amazonas, que hoje não chega a mil toneladas.
As propostas foram consideradas positivas pelos participantes. Ainda assim, eles não deixaram de apresentar algumas reivindicações. De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Seringueiros, Manoel Cunha, as reivindicações estão relacionadas às melhorias das condições de comercialização, apoio para abertura das estradas de seringueiros, distribuição de materiais para extração (tigelas, facas e baldes) e também recursos para garantir o pagamento dos trabalhadores pelas cooperativas no momento da entrega do produto. "Isso aqui é o começo de uma política pública que está sendo implantada e que é específica para a cadeia da borracha", ressaltou.
Os participantes do encontro em Manaus representam municípios situados nas calhas dos Rios Madeira, Juruá e Purus – que possuem tradição no cultivo e na extração da borracha. Entre eles está Manicoré, o maior produtor de borracha do Amazonas e também o município onde é pago o maior valor por quilo do produto no estado (R$ 3,20). No Amazonas, como forma de subsídio e incentivo à produção, o governo do estado paga às associações e cooperativas R$ 0,70 por cada quilo de borracha produzido. O benefício é ainda maior para os produtores de Apuí, Lábrea e Pauini, cujas prefeituras também concedem o benefício – nesses casos em nível municipal e variando de R$ 0,30 a R$ 0,70.
O representante de Manicoré, João dos Santos, avalia que o cultivo da borracha no Amazonas vem obtendo resultados positivos, mas que questões relacionadas ao transporte, ao armazenamento, ao beneficiamento e à comercialização ainda precisam ser resolvidas. Para ele, o aumento da produção está relacionado ao beneficiamento dos seringais. Santos ressalta, ainda, que menos de 30% dos seringais do Amazonas são aproveitados do ponto de vista comercial. "Além de tudo isso, temos que atentar para o fato de que uns 70% dos nossos seringais não estão sendo beneficiados. Se isso se reverter, nossa produção vai aumentar com certeza."
No Amazonas, a borracha é produzida, anualmente, entre os meses de março e dezembro. O país produz média de 170 mil toneladas anuais do produto, apesar do consumo interno chegar a 300 mil toneladas. O secretário Eron Bezerra lembrou que, apesar da produção atual estar abaixo das expectativas, há 100 anos o Amazonas produzia 2 milhões de toneladas de borracha por ano. Segundo Bezerra, isso prova de que é possível "reerguer" a cultura da borracha no estado.
"O preço do produto sintético está aumentando e os seringais da Ásia estão perdendo suas qualidades produtivas. É o melhor momento para a borracha no Amazonas ser reerguida, e desenvolver maneiras de aproveitar essa situação será, com certeza, um dos maiores desafios da Sepror [Secretaria de Produção Rural]", completou Bezerra.
(Estado de Minas, 16/03/2008)