A conservação na Índia dos famosos tigres de Bengala implica reassentar as comunidades indígenas fora da área habitada por este felino. Falar é fácil, mas a tarefa não o é em absoluto. “Por ordem do governo identificamos a área de Nagarhole como um habitat importante para os tigres. Estamos reassentando as tribos fora das áreas centrais”, disse A. K. Singh, alto funcionário de conservação de florestas de Nagarhole, onde fica o Parque Nacional Rajiv Gandhi, com 5.500 quilômetros quadrados e que fica no Estado de Karnataka, sul do país.
A Autoridade nacional para a Conservação do Tigre e o Instituto de Vida Silvestre apresentaram um cenário sombrio para a espécie em seu recente informe, intitulado “Status do tigre, predadores e presas na Índia”. A população de tigres diminui neste país principalmente devido à caça ilegal e pela redução de seu habitat, acrescenta o informe. A população dos raros tigres de Bengala diminuiu em toda a Índia para 1.411 animais, uma redução drástica em relação à última pesquisa, feita em 2002, que apontou a existência de 3.700 exemplares, dos quais 1.500 em áreas protegidas. Porém, o primeiro desses censos foi feito pelo método pouco confiável de contar as pegadas dos animais.
Karnataka tem hoje uma das maiores populações de tigres do país. Há 290 nos parques de Nagarhole, Bandipur, Dandeli e bhadra. O Estado de Madhya Pradesh tem uma quantidade semelhante. Os tigres de Karnataka diminuíram em relação às 401 populações recenseadas há cinco anos. O principal funcionário encarregado das florestas da capital estadual, Bangalore, Indu bhushan Srivastava, considerou enganoso o censo anterior. “Houve muitas presunções no último censo. Nossa população de tigres é saudável, a julgar pelo último informe”, assegurou.
Ambientalistas agora se voltam contra a Lei de Tribos Registradas e Outros Habitantes Tradicionais de Florestas, vigente na Índia desde dezembro de 2006, por entenderem que prejudica os tigres e as florestas. Mas a avaliação da lei é díspare. Reconhece a propriedade das terras às comunidades que residem na área há pelo menos três gerações, mas estipula em outro artigo que humanos não podem residir em habitats importantes para os tigres. A execução da lei corre por conta do Ministério de Assuntos Tribais de Nova Délhi, em coordenação com os governos estaduais.
A lei não vai interferir com a conservação do tigre em Karnataka, segundo Srivastava. “Estamos assegurando os habitats centrais dos tigres e retirando as pessoas das reservas. O reassentamento é inevitável”, explicou. Em Nagarhole, cerca de 320 familias, das 1.750 existentes, foram reassentadas fora do parque. Srivastava considera que o pacote oferecido pelo governo em compensação a cada família retirada – 1,2 hectare e US$ 25 mil – é suficientemente atraente para evitar qualquer protesto.
Estão todos “bastante acomodados’, disse Harish, de 25 anos, líder de uma comunidade reassentada em 2002 no acampamento de Nagapara, em Nagarhole. Leva tempo para se adaptar, porque a agricultura, avicultura e pecuária são atividades novas para eles, disse Singh. No último acampamento reassentado em Sollepura, fora de Nagarhole, há descontentamento e frustração pela falta de água, eletricidade e locais para se abastecer de alimentos. “Nosso dever é dar terras, moradias e sementes para cultivarem. Nosso trabalho termina aqui. Agora cabe às autoridades do distrito e ao departamento de bem-estar tribal assumir a situação”, destacou Singh.
Srivastava concorda que o processo de recolocação “leva tempo e se faz em etapas” e também que o departamento florestal deve cooperar com as autoridades para melhorar os serviços nos novos assentamentos. No entanto, o primeiro-ministro, Manmohan Singh, enviou um memorando às autoridades estaduais com população de tigres determinando que supervisionem pessoalmente os esforços de conservação. O atual orçamento federal destina US$ 125 mil à conservação destes animais. O dirigente criou em janeiro um escritório de prevenção de crimes contra a vida silvestre, em uma tentativa de controlar a caça ilegal.
Mas, o censo de tigres de 2008 apresenta um panorama animador para o atribulado felino da Índia, ao assinalar que em cada uma das unidades geográficas identificadas há possibilidades de manejar algumas populações de tigres no contexto de “metapopulações”. Entende-se por metapopulações um grupo de manadas locais ligadas entre si por processos migratórios. “Isso favorece o potencial de conservação de cada uma dessas populações e sua probabilidde de sobreviver no longo prazo”, explicou.
(Por Keya Acharya, IPS, Envolverde, 14/03/2008)