Iniciativas do novo governo da Austrália de se estabelecer como amigável aos animais e que se preocupa enfrentaram problemas com sua recusa de parar um plano de matar 400 cangurus em uma ex-base militar. O governo disse que o abate é um caso necessário de ser cruel para ser gentil, mas o foco internacional está mais na crueldade do que na gentileza. A batalha crescente sobre o destino dos cangurus deixou o ex-cantor de rock Peter Garrett, agora ministro do Meio Ambiente da Austrália, nos desgostos de Paul McCartney, o ex-Beatle e ativista dos direitos dos animais.
As autoridades no Território Capital Australiano, que inclui a capital nacional, Canberra, e responsável pela Estação de Transmissão Naval Belconnen, agora fora de uso, disseram que a área está invadida por cerca de 500 cangurus que estão se colocando em perigo, assim como as espécies nativas e plantas raras. “Se a natureza seguir seu curso, haverá efeitos severos das planícies ameaçadas e muitos cangurus sofrerão uma morte lenta por fome”, disse o governo do território em um relatório.
Ele quer que o departamento de Defesa, que possui o Belconnen, mate 400 cangurus. “Os cangurus precisam ser removidos imediatamente para que tenhamos um animal por hectare ou menos”, disse o ministro do Território Capital Australiano, John Stanhope, na semana passada. “Os cangurus devem ser removidos da forma mais humana possível daquele local”. Ele disse que um comitê científico aconselhando o governo concluiu que “a abordagem mais humana seria sedação por dardo, depois a eutanásia por injeção letal”.
E parece que o departamento de Defesa irá dar continuidade ao plano para o Belconnen, que será vendido no futuro. “A eutanásia dos cangurus começará no futuro próximo”, disse uma porta-voz do departamento na quinta-feira. Garrett, que, além de ser integrante da banda Midnight Oil era ativista ambiental, bem antes de entrar na política, trabalhou duro para estabelecer o governo do Partido Trabalhista como uma administração amiga de animais.
Ele tomou uma posição pública contra a caça de baleias, enviando navios fretados pelo governo para monitorar a frota baleeira do Japão e fez lobby na Comissão Internacional de Caça de Baleias para modificar uma abertura que permite que baleias sejam caçadas em nome da pesquisa científica. Mas defensores dos direitos dos animais na Austrália dizem que a recusa de Garrett de intervir ameaça a recém-adquirida posição do governo.
“Qualquer influência internacional ética e moral que o governo australiano tem em relação à caça de baleias do Japão será rapidamente perdida quando se sabe que existe uma alternativa de baixo custo que não precisa matar esses cangurus envolvendo a remoção para outro local”, disse Steve Garlick, ex-presidente da organização de resgate da vida selvagem WildCare, em uma carta para Garrett. O governo do Território Capital Australiano disse que seu representante para sustentabilidade e meio ambiente considerou realocar os animais, mas concluiu que isso causaria um trauma significativo.
“O comitê do representante considerou várias opções, incluindo a mudança de local, e concluiu que essa não era a abordagem mais humana”, disse Stanhope. O que é peculiar sobre esse debate atual é que a Austrália está acostumada em matar cangurus. No ano passado, os governos estaduais deram autorização para matar 3.7 milhões de cangurus, cerca de 15% da população total das quatro espécies licenciadas para exploração comercial, apesar do governo dizer que menos de dois terços da cota são realmente mortos em qualquer ano.
Os cangurus são vendidos pela carne e couro; a pele do animal é popular na fabricação de calçados esportivos. Apesar de não estarem ameaçados de extinção, cangurus mexem com a imaginação pública. No ano passado, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, mostrou controvérsia quando ele assinou uma lei derrubando uma proibição de 37 anos da venda de produtos feitos com canguru. Essa medida veio após a Suprema Corte decidir que a empresa de tênis Adidas não podia mais vender os calçados com pele de canguru na Califórnia.
Esse caso foi levado ao EUA pelo braço do grupo de direitos animais Voz dos Vegetarianos Internacional pelos Animais, ou Viva!, que faz campanha há tempos para acabar com o abate de cangurus. “Há uma necessidade urgente de ação para proteger os cangurus da indústria bárbara que os mata pela sua carne e pele”, disse McCartney no site administrado pelo Viva!, savethekangaroo.com, que está na frente da luta para evitar o abate de Belconnen. “Por favor, faça tudo que você pode para ajudar o Viva! a acabar com esse massacre vergonhoso”.
(Por Tim Johnston, The New York Times, 14/03/2008)