Palestrante do III Fórum sobre o Impacto das Hidrelétricas no Rio Grande do Sul, o professor do Departamento de Botânica da UFRGS e membro do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (INGÁ), Paulo Brack, destaca que as pesquisas oficiais para a construção das usinas não estão sendo feitas em locais que consideram a verdadeira magnitude da biodiversidade da região.
“Temos nas margens e no vale dos rios Uruguai e Pelotas áreas de remanescentes mais significativas. Fora do rio há uma condição de florestas muito mais impactadas do que junto ao curso da água. E isso está sendo desconsiderado”. Toda a região do Alto Uruguai, segundo ele, é hoje núcleo da reserva da biosfera da Mata Atlântica, já consagrado como patrimônio mundial. Por isso, sua conservação é prioritária, conforme consta nos mapas do Ministério do Meio Ambiente.
“Então”, pergunta, “por que vamos insistir com mais uma hidrelétrica? Entre os municípios de São Borja (com 36m de altitude) e São José dos Ausentes (com 900m) há 9 hidrelétricas, em construção ou projetadas, praticamente todas justapostas. Queremos que o governo defina alguns trechos do rio que devem ser mantidos como princípio da Reserva Legal para o rio, definidos em base de estudos técnicos”.
Dez novas espécies
O pesquisador entende que, apesar dos alertas que estão sendo feitos em relação à destruição das florestas, principalmente araucárias, é necessário que se preste atenção a delicada situação dos peixes. “Essa é uma questão muito crítica, talvez a mais dramática. Existem várias espécies de peixes endêmicos. Temos trabalho de pesquisadores da PUC e da UFRGS que encontraram mais de dez espécies novas de peixes para a ciência. Aquela região ainda não foi estudada suficientemente. Pode existir espécies novas para a região, que serão destruídas se a hidrelétrica foi levada adiante sem os estudos suficientes”.
Esse é um endemismo especial, relata Paulo Brack, pois está relacionado às condições de altitude e por serem rios com águas cristalinas, o que é difícil de ser encontrado no restante do Estado. As águas são frias e com corredeiras. No momento em que for feito o barramento, essa água vai ficar parada, a temperatura muda e as condições de turbidez vão aumentar, o que pode causar o desaparecimento de mais de 90% daquelas espécies.
E conclui lembrando que em Barra Grande foi comprovado o desaparecimento da bromélia dyckia distachya nas suas condições naturais, pois era a última região conhecida de sua ocorrência no vale do Rio Pelotas. Especialistas já localizaram uma bromélia do mesmo gênero daquela que desapareceu na região de Pai Querê. “São todas coisas novas. A ciência avança, mas o licenciamento está baseado em premissas de 30/40 anos atrás”, denuncia.
(Por Juarez Tosi, EcoAgência, 13/03/2008)