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2008-03-14

As emissões de carbono geradas pelo desmatamento na Amazônia, bem como a quantidade de biomassa disponível na floresta, foram superestimadas ao longo dos anos. Essa é a conclusão de um estudo realizado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que desenvolveram uma metodologia capaz de corrigir os dados obtidos anteriormente. Os resultados, no entanto, não isentam o desmatamento de impactos negativos sobre o clima.

O estudo, feito pelo biólogo Euler Nogueira em sua tese de doutorado, analisou as árvores situadas na região conhecida como ‘arco do desmatamento’, no sul e sudoeste da Amazônia. O local foi escolhido por ser o mais degradado ao longo dos anos e o menos estudado.

Os pesquisadores constataram que a madeira das árvores dessa área tem densidade mais baixa do que se pensava. “Conseqüentemente, a quantidade de carbono emitida por sua retirada também é menor: cerca de 10,7% menos do que se estimava”, explica Nogueira.

“Mas isso não significa que o desmatamento deixa de ser uma preocupação”, ressalta o biólogo. Isso porque a taxa de carbono emitido, ainda que menor do que a anterior, continua sendo elevada, o que pode gerar graves conseqüências climáticas em escala global. Além disso, também devem ser levadas em conta questões como a perda da biodiversidade e os impactos da mudança do uso do solo na região – a terra vem sendo cada vez mais utilizada para agricultura e a pecuária extensiva.

Cálculos confiáveis Para verificar com maior precisão a quantidade de biomassa existente nas áreas tomadas pela floresta e nas que já sofreram degradação, Nogueira uniu dois métodos. Um deles usa inventários do volume de madeira distribuído por toda a Amazônia e o outro se baseia em equações alométricas, cujas variáveis foram redefinidas para as regiões sul e sudoeste da Amazônia por meio da pesagem direta das árvores.

O novo método permite calcular com grande precisão até mesmo a quantidade de carbono presente na floresta de pé.

A combinação dos dois métodos e o uso de novos dados permitiram melhorar os cálculos da biomassa das árvores em pé na floresta. Além disso, com as novas equações desenvolvidas para o sul e sudoeste da Amazônia, é possível agora determinar o peso das árvores em pé medindo somente seu diâmetro.

Segundo Nogueira, essa é a primeira vez que são desenvolvidas equações alométricas para florestas no arco do desmatamento. As equações existentes até então só contemplavam a Amazônia central e não podiam ser aplicadas para árvores do sul e sudoeste da região, uma vez que suas características são diferentes daquelas da porção central da bacia.

Enquanto na Amazônia central predominam espécies de árvores com densidade de madeira média e alta, no local estudado prevalecem árvores de leve e média densidades. Outra diferença é que as árvores no sul e sudoeste tendem a ser mais baixas para um dado diâmetro e têm maior quantidade de água, o que influencia na medida de sua biomassa seca. “E, para se estimar o carbono, deve ser considerada apenas a biomassa seca – constituída, em média, por 50% desse elemento”, ressalta o biólogo.

O pesquisador afirma que a coleta de novos dados nas regiões sul e sudoeste foi essencial para a obtenção de informações mais precisas. “Também buscamos corrigir erros de cálculos anteriores para as outras partes da Amazônia, como estimativas de volume de madeira, ocorrência de oco nas árvores e dados de densidade, o que permitiu reduzir incertezas nos números referentes à biomassa”, completa. “Agora sabemos com maior consistência quanto de carbono existe atualmente nas florestas da Amazônia, incluindo raízes, cipós e folhas e árvores mortas”, avalia.

Com seu estudo, Nogueira acredita que será possível compreender melhor a dinâmica das emissões de carbono no arco do desmatamento e em toda a Amazônia, bem como seus impactos sobre a atmosfera global. “A determinação de medidas mais precisas do carbono estocado na região permitirá que os governos planejem suas estratégias de preservação da floresta, visto que em nosso trabalho fornecemos estimativas por estado na Amazônia legal”, afirma.

(Andressa Spata, Ciência Hoje On-line, Carbono Brasil, 13/03/2008)


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