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contaminação com agrotóxicos
2008-03-14
A Polícia Civil de São Gabriel da Palha ouvirá a professora que foi obrigada a fugir com seus alunos do bombardeio aéreo de agrotóxicos, dois de seus alunos - autorizados pelos pais - além de moradores da comunidade de córrego São Vicente, em Vila Valério, noroeste do Estado. Nesta quinta-feira (13) a polícia ouviu dirigentes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

À Polícia informaram que embora não estivessem na comunidade, ouviram relatos de pânico dos moradores, com a aplicação dos venenos agrícolas por via aérea. A professora, os alunos e os moradores detalharão como foi a ação de que foram vítimas.

O MPA denunciou que “no momento da aplicação dos venenos, era horário de aula na escola da comunidade e os alunos e a professora tiveram que abandonar a escola e correrem para a residência da senhora Márcia Rúbia Mutz Schneider, na busca de se livrarem da chuva e do cheiro forte dos venenos”.

Os venenos agrícolas lançados do avião também atingiram diversas famílias que se encontravam na roça cuidando dos seus afazeres. As famílias “tiveram que deixar o trabalho e correram para suas casas, algumas tendo que buscar abrigo em casa de vizinhos no intuito de se livrarem da chuva dos agrotóxicos, evitando no primeiro momento de morrerem envenenadas (asfixiadas)”.

As autoridades já sabem que os venenos foram aplicados por avião nas lavouras cafeeiras de propriedade de Elias Caxias e Silfárlio Thomas, entre outros. Funcionários do Instituto Estadual de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) estiveram no local investigando a denúncia, mas não informaram a comunidade sobre os tipos de venenos lançados do avião.

Há também um procedimento aberto pela Promotoria do Ministério Público Estadual (MPE) da comarca de São Gabriel da Palha. A promotora Blandina Irene Chamon Junqueira não descarta promover uma Ação Civil Pública denunciando os responsáveis à Justiça.

Uma suspeita da comunidade é que entre outros foi usado o Tiodan CE (Endosulfan), um agrotóxico que entre outros problemas, produz mutação genética, além de ser tóxico para os rins e é usado nas plantações de café. Seus resíduos contaminam o solo e a água e são preocupantes. O agrotóxico é produzido na Alemanha, mas não pode ser usado naquele país, sob pena de prisão para quem o emprega. O veneno é vendido livremente no Brasil, licenciado pelo governo federal.

Da região vêm relatos de que em outras comunidades de Vila Valério a aplicação dos venenos tem matado peixes: só em um tanque foram mortos 500 quilos. Também há relatos da morte de galinhas.

O uso dos agrotóxicos no Brasil é indiscriminado. O Espírito Santo é o terceiro estado brasileiro no consumo por pessoa dos venenos agrícolas. Os venenos são chamados pelas empresas de “defensivos agrícolas”. Produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas, entre muitas outras.

Também levam agricultores ao suicídio. Os agricultores são estimulados a usar os venenos agrícolas pela intensiva propaganda das empresas, com total omissão do Poder Público. Os venenos agrícolas, que têm efeitos cumulativos, intoxicam e tornam os agricultores impotentes. As mulheres, frígidas. Depressivos, os homens se matam.

Dez mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.

Os alimentos são contaminados e o efeito sobre os consumidores também é cumulativo. As transnacionais dos agroquímicos faturaram no Brasil em 2006 US$ 3,9 bilhões. São empresas que se interligam vendendo agrotóxicos, adubos e sementes. Agora, algumas de milhos e soja, são transgênicas.

Entre as transnacionais dos venenos agrícolas estão a Bayer Cropscience Ltda, Dow Agrosciences Industrial Ltda, DuPont do Brasil S.A., Monsanto do Brasil S.A., Laboratórios Pfizer Ltda.; Rhodia Brasil Ltda; Syngenta - Proteção de Cultivos Ltda.

(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 14/03/2008)


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