"O que se passa no Brasil é problema meu também." A declaração da panamenha María Concepción Donoso, hidróloga da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sintetiza o tom dos discursos na 5ª Oficina Internacional sobre Enfoques Regionais para o Desenvolvimento e Gestão de Reservatórios na Bacia do Prata. O encontro começou na terça-feira (11/03) e prossegue até esta sexta-feira (14/03), no Auditório César Lattes, no Parque Tecnológico Itaipu.
Sob a bandeira da integração, personalidades proeminentes da gestão ambiental e representantes de diversas instituições internacionais trocam experiências e dão testemunhos de trabalhos regionais. Além de vários latino-americanos, o caráter cosmopolita da Oficina é reforçado com a presença de japoneses representantes de organizações com atuação mundial, como a Global Environment Monitoring System (GEMS) e a Global Environment Facility (Gef).
Os debates deixam clara a mensagem de que o tratamento das questões ambientais deve estar acima de qualquer noção de fronteira. Os participantes confirmam. "Estamos prontos para caminhar juntos", disse, na abertura da Oficina, o diretor de Coordenação e Meio Ambiente, Nelton Friedrich.
Exemplo dessa integração aconteceu na tarde de terça (11/03), já no primeiro dia de evento, quando o brasileiro Oscar Cordeiro Netto, o uruguaio Nicolás Failache e o argentino Oscar Duarte apresentaram os planos de gerenciamento dos recursos hídricos de seus respectivos países. "Estamos dividindo o mesmo espaço. A consciência disso gera redes e trocas de informação, como esse encontro, que é um exemplo de que estamos em um bom caminho", disse Cordeiro Netto, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA).
Para Pedro Domaniczky, superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu no Paraguai, pensamentos globais exigem ações locais. "Esse é o novo modelo para o desenvolvimento sustentável", ressaltou.
Segundo José Galizia Tundisi, diretor do Instituto Internacional de Ecologia, a união de diferentes países em projetos que compartilham a experiência de gestão, uma das metas da Oficina, é um importante passo adiante. Ele pregou a administração de grandes bacias hidrográficas de forma conjunta e livre de diferentes ordenamentos jurídicos e políticos. "A gestão deve ser descentralizada e transcender essas barreiras", afirmou.
Na mira dos japoneses que participam da Oficina, o Programa Cultivando Água Boa, desenvolvido pela Itaipu em parceria com prefeituras e diversas entidades na Bacia do Paraná 3, surge como a possível prática da teoria defendida no encontro.
A ação, genuinamente brasileira, serve de modelo não apenas para a Bacia do Prata, mas também para outras regiões. Por meio da troca de informações e do trabalho em conjunto realizado já durante a Oficina, o programa em breve pode inspirar atitudes semelhantes até mesmo do outro lado do planeta. "Ele vale para qualquer lugar do mundo", disse o japonês Takehiro Nakamura, representante da International Water, uma divisão da Gef.
De acordo com Odacir Fiorentin, gerente executivo do Programa Cultivando Água Boa, essa "cópia" já acontece no Brasil. "A metodologia do programa, com a participação dos municípios e demais parceiros, já está sendo multiplicada em outras regiões, respeitando as peculiaridades de cada local", revela.
Temas como estratégias ambientais de recursos hídricos, gestão de riscos e aspectos sociais e econômicos nas regiões próximas à Bacia do Prata ainda vão estimular debates e trabalhos em grupo até o fim da Oficina, na sexta-feira.
(Ascom ANA, 12/03/2008)