O barril do petróleo a 110 dólares poderia ser uma boa coisa para a canola, o milho e todas as culturas aptas à produção de biocombustíveis. Mas é o contrário. No mesmo dia em que o preço do petróleo registrou altas recorde, o Programa Mundial de Alimentação da ONU soou o alarme: ''será preciso escolher: comer ou rodar''.
Essa previsão atroz diz respeito sobretudo aos países de clima temperado, onde a produção energética da biomassa é pobre. A União Européia fixou uma meta: garantir em 2020, pela bioenergia, 10% das necessidades de combustíveis para os transportes rodoviários. O que vai exigir uma conversão de 72% das terras cultiváveis da Europa, ou seja, ela precisará demolir sua brilhante agricultura alimentar.
O dilema é dramático. O mundo moderno tem duas necessidades que são ao mesmo tempo irreprimíveis e incompatíveis: comer e rodar. Ora o mundo roda cada vez mais e tem cada vez mais fome.
Na Europa, de hoje até 2030, as necessidades em matéria alimentar devem aumentar 50%. Nos países pobres em receitas, é pior: a fatura a ser paga por cereais aumentou 35% em 2007, pelo segundo ano consecutivo. Como explicar essa escalada dos preços dos grãos? No caso do milho, a culpa é, nitidamente, dos biocombustíveis. Na Europa, das 100 milhões de toneladas de grãos consagrados aos biocombustíveis, 95 milhões provêem do milho. O que resultou num forte aumento desse cereal.
Quanto ao trigo, a situação é mais ambígua. As cotações subiram vertiginosamente, mais de 80%. No entanto, até agora, só uma porcentagem ínfima de trigo entra na produção dos biocombustíveis.
(Por Gilles Lapouge, Folha de Londrina, Carbono Brasil, 13/03/2008)