Medida é considerada inédita no Estado e prevê um investimento total de R$ 270 mil
Cidade que se orgulha pelo pioneirismo em diversas áreas, Campo Bom novamente implanta um projeto único no Estado: desde a noite de ontem, usa a energia solar na iluminação pública. A inovação devolverá luz à noite nos quatro trechos do Centro que, desde novembro, tiveram corte da AES Sul devido a impasse de dívida com a prefeitura. Ontem, foram instalados na Avenida São Leopoldo os primeiros quatro postes (dois deles entraram em funcionando à noite, e os outros dois serão ativados hoje). Outros 36 serão instalados em até 15 dias, na área de 1.250 metros atingida pelo apagão. O projeto piloto ficará no local até que seja resolvido o impasse com a AES Sul. Outros 20 postes serão colocados junto a prédios públicos, em local e data a serem definidos. O investimento total chegará a R$ 270 mil.
Ontem, moradores olhavam curiosos, enquanto a instalação do novo sistema era feita pela equipe da empresa de Sapucaia do Sul que venceu a licitação e desenvolveu o projeto. O técnico Inácio Perin garante que o sistema é único no Estado. Ele é dividido em conjuntos de dois postes e formado por uma placa (módulo gerador), que capta energia solar e abastece duas lâmpadas led (fria). Cada lâmpada é colocada em um dos postes, de ferro galvanizado, com oito metros de altura. Os dois postes são instalados a 30 metros de distância um do outro e ligados por uma fiação, que transfere a energia de um para o outro. “A placa capta a energia do sol e a transfere para uma bateria. Quando escurece, um sistema de fotocélula aciona a lâmpada led’’, explica.
“Estamos usando uma tecnologia nova, com energia renovável. Como já fomos outras vezes, a exemplo da exportação de calçados e da primeira ciclovia da América Latina, estamos sendo prioneiros’’, orgulha-se o prefeito Giovani Feltes (PMDB). Ele observa que os 40 postes serão instalados em até 15 dias, em todo o trecho atingido pelo apagão. “Quando houver acordo com a AES Sul, os postes serão retirados do local e implantados no entorno de prédios públicos que estão em construção’’, acrescenta Feltes. Por meio de sua assessoria, a AES Sul disse que não foi comunicada sobre o novo sistema e que, assim que isso ocorrer, avaliará como irá proceder sobre o assunto.
Custos
O secretário de Obras, Faisal Karam, destaca que a implantação não será feita em toda a cidade em função de custos. Cada poste custa em torno de R$ 9,9 mil, enquanto um sistema normal (com postes de madeira) custa em torno de R$ 3,2 mil. “Como é um sistema novo, tanto que o projeto foi desenvolvido especialmente para a cidade e as placas são importadas por uma única empresa, seria inviável colocar em toda cidade. No futuro, conforme a procura por esta tecnologia aumentar, se acredita que o custo diminua’’, avalia o secretário. Karam admite que a prefeitura ainda não sabe o quanto o sistema representará em economia na conta da iluminação pública.
Comunidade aprova a iniciativa
Morador da Rua São Leopoldo, quase em frente de onde dois postes foram instalados ontem, o mecânico aposentado Aquinelo Dick, 61 anos, comemorou a volta da iluminação pública no local. “A iniciativa é muito boa, porque aqui é um breu só, a gente tem medo de sair de casa à noite’’, conta. A vizinha de Dick, a dona de casa Marga Volpato, 67, também aprovou. “A gente fica aliviado, porque assim como está é muita insegurança’’, desabafa a dona de casa.
As funcionárias de uma loja próxima contam que precisavam deixar a luz interna do prédio acesa. “E eu tenho que ir à noite até a rodoviária e o caminho é todo escuro. O medo acompanha sempre. Que bom que isso terá uma solução e de uma forma interessante, com uso da energia do sol’’, elogia a comerciária Manuela Dullius, 24. O prefeito Giovani Feltes (PMDB) conta que a proposta estava em estudo desde o ano passado. “Desenvolvemos um projeto piloto na prefeitura, que ficou em teste de novembro até janeiro, então foi aberta a licitação para que uma empresa desenvolvesse todo o projeto’’, conta Feltes.
Energia pode ser armazenada por 5 dias
O técnico Inácio Perin compara que, enquanto uma lâmpada led tem a durabilidade de 36 mil horas, a usada no sistema tradicional dura 12 mil horas. A led tem potência que equivale a de 100 watz, mas consome o equivalente a 25 watz. A energia fica armazenada e suporta até cinco dias sem captar a luz (em caso de dias muito nublados, durante o inverno principalmente). Quanto à segurança, Perin aponta que não há risco de choque no poste de ferro galvanizado, já que funciona em corrente contínua, com 12 watz, e não 220, como os abastecidos por energia elétrica.
O prefeito Giovani Feltes (PMDB) enfatiza que o projeto é pioneiro no Brasil, com o uso de lâmpadas led, que, além da economia, são poluem o meio ambiente (não possuem sódio, como nas lâmpadas usadas na iluminação pública em geral). “A idéia do projeto surgiu da necessidade de se criar uma alternativa para economizar em energia elétrica”, acresenta Feltes.
(Por Tânia Goulart, Jornal NH, 13/03/2008)