Tipo de trabalho: Tese de Doutorado
Instituição: Instituto de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP)
Ano: 2008
Autor: Eduardo José Marandola Júnior
Resumo:
O homem sempre conviveu com a incerteza. Na modernidade, ela se manifesta como riscos e perigos que interferem de maneira crescente em todas as facetas da vida social. De um fenômeno circunscrito espaço-temporalmente, o risco passou a permear o mecanismo de reprodução social, gerando incerteza e insegurança cada vez mais generalizadas. No contexto do atual estágio da modernidade, há uma flexibilização nas instituições que se reflete diretamente na vida das pessoas. Chamada de modernidade líquida, a fluidez é tanto a da mobilidade constante (de pessoas, capitais, produtos, padrões, valores, populações) quanto da diluição das certezas e de padrões modernos. As condições próprias desta mobilidade e do viver se transformam, produzindo alterações ontológicas do próprio sentido da existência, reveladas nas diferentes formas de habitar contemporâneas, que são, numa leitura fenomenológica, expressão do próprio ser e estar no mundo. Investigamos essas formas de habitar na Região Metropolitana de Campinas para poder pensar o fenômeno no âmbito das novas morfologias urbanas. A estratégia passa por uma prática fenomenológica de investigação, que coloca a história e os espaços de vida das pessoas no centro do pensar, permitindo uma compreensão das repercussões dos fenômenos macro-sociais (a modernidade líquida) nas interações e envolvimento particulares que as pessoas desenvolvem em suas vidas diárias (a experiência vivida). A tese que defendemos é a de que as transformações descritas acima alteraram o significado da casa e seu papel enquanto promotora de proteção/risco na metrópole contemporânea. O incremento da mobilidade aumenta a distância e o tempo dos deslocamentos, mantendo-nos cada vez mais tempo fora do lugar, da casa, nossa principal fonte de proteção. As relações de vizinhança e de identidade comunitária provocam e são consequências deste processo, haja vista que com a diminuição da permanência na casa, os laços fundamentais de proteção ficam fragilizados e, em conseqüência, estar em casa não é mais estar sempre seguro. O resultado é um espaço de vida mais esgarçado, com os recursos que promovem a proteção dispersos no espaço regional metropolitano, quando oriundos dos sistemas locais, e espalhados pela difusa rede de localidades globais, quando provenientes dos sistemas de peritos. Uma das grandes perdas do atual estágio da modernidade é a casa, lugar da proteção por excelência, ter se tornado, também, um lugar de risco, o que torna o habitar metropolitano um habitar em risco.