O avião empregado para lançar agrotóxicos sobre crianças e agricultores em Vila Valério, noroeste do Estado do Espírito Santo, pode ser o mesmo usado em Linhares, no norte, para bombardear uma comunidade rural com venenos agrícolas. A suspeita é de dirigentes estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e deverá ser investigada pela Polícia Civil, que abriu inquérito sobre o caso.
O lançamento dos venenos em Vila Valério ocorreu na comunidade do córrego São Vicente, no último dia cinco. Funcionários do Instituto Estadual de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) estiveram no local investigando o caso nesta terça-feira (11/03). Não deram informações à comunidade sobre os tipos de venenos lançados do avião.
No caso da aplicação na região do Córrego do Farias, em Linhares, na área pulverizada por via aérea, foram atingidas casas e córregos. E gente. O veneno aplicado sobre os moradores, uma plantação de banana e pastagens foi Randoup.
O Randoup é um agente cancerígeno e também produz alterações genéticas, entre muitos outros problemas à saúde e ao ambiente. No caso de Linhares foi usado um avião adaptado para uso na agricultura, de cor amarela, cuja base é o aeroporto do município.
Agora, há suspeição de que o crime contra a saúde dos moradores e o meio ambiente em Vila Valério tenha sido praticado pelo mesmo empresário, com o avião usado também em Linhares no início do ano passado.
O bombardeio sobre as crianças e os agricultores em Vila Valério está sendo apurado pela Delegacia de Polícia em São Gabriel da Palha. Nesta quinta-feira (13/03) pela manhã, alguns dirigentes do MPA de Vila Valério vão prestar depoimento no inquérito aberto sobre o caso.
Também a Promotoria do Ministério Público Estadual (MPE) de São Gabriel da Palha abriu procedimentos para investigar a denúncia. A promotora poderá denunciar o crime em Ação Civil Pública, exigindo a reparação dos danos quantificáveis com o lançamento dos venenos sobre as crianças e agricultores. Algumas das conseqüências da contaminação, como o aparecimento de cânceres, só serão observadas a longo prazo. Nesta ocasião, sua correlação com a contaminação ocorrida agora será difícil.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 13/03/2008)