A Polícia Militar (PM) do Amazonas usou a força para expulsar um grupo de 200 sem-teto de uma faixa de terra privada situada na comunidade Lagoa Azul, na zona rural de Manaus. Entre os sem-teto havia 105 indígenas de sete etnias que ocupavam a área de 180 mil metros quadrados havia três meses. O grupo foi previamente avisado da reintegração pela própria PM e decidiram se armar com arcos e flechas. Eles enfrentaram um batalhão de 150 homens da PM, munidos com bombas de gás lacrimogêneo e com a ajuda de cães e da cavalaria.
A estratégia da PM de cercar os invasores acuou parte dos ocupantes da área. Houve correria, choro e mães com crianças no colo gritavam em tom de desespero. Alguns indígenas chegaram a atirar flechas contra os homens da PM, mas o aparato policial se mostrou muito superior à resistência dos indígenas. Um trator foi utilizado para derrubar dezenas de barracos. Ao fim da operação, 17 pessoas foram detidas, entre elas, quatro índios.
Segundo o comando da Polícia Militar do Amazonas, membros da Polícia Federal (PF), do Ministério Público Estadual (MPE) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram convidados para acompanhar a ação, mas não compareceram. Há duas semanas, a PM já tinha cumprido mandado de reintegração de posse na mesma área expedido pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Amazonas. Na ocasião, a ação se deu de forma pacífica, já que o número de invasores era bem menor.
Excessos
O cacique Luiz Sateré, de 49 anos, que pertence à etnia seteré-mawé, prometeu denunciar o que chamou de "excessos da PM" à Câmara de Vereadores de Manaus, à Assembléia Legislativa do Estado e ao Congresso Nacional. Segundo ele, a PM agiu com truculência e não mostrou o mandado de reintegração de posse. "Chutaram uma grávida como chutam uma bola", disse. De acordo com ele, a área apontada como de propriedade do engenheiro civil Mitishu Inoue já foi dos índios, mas não há documentos que comprovam a posse indígena.
(G1, 11/03/2008)