Já admite que a produção brasileira não é tão prejudicial quanto a do etanol gerado nos países ricos. Pressionada pelo Brasil, a Organização das Nações Unidas (ONU) vai rever sua avaliação sobre os impactos dos biocombustíveis. Hoje, o relator das Nações Unidas para o direito à Alimentação, Jean Ziegler, atacou a expansão do uso do etanol no mundo, alertando que a produção tem tudo para gerar mais fome e pedindo uma moratória na fabricação nos Estados Unidos e Europa. Mas fez uma ressalva: o caso da produção brasileira não tem os mesmos efeitos negativos que o etanol gerado nos países ricos.
"A produção de biocombustíveis no Brasil respeita o direito à alimentação e está promovendo uma ajuda aos pequenos agricultores marginalizados a sair da pobreza", afirmou o relator da ONU diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
De acordo com o relatório, o biocombustível seria um fator que pode agravar a fome no mundo, que já atinge 854 milhões de pessoas. Apesar de destacar os avanços para lidar com a má-nutrição no Brasil, China e Índia, os números atuais seriam maiores que os registrados em 1996, quando existiam 800 milhões de pessoas que passavam fome. "A cada ano, seis milhões de crianças morrem de doenças ligadas à fome. Isso é inaceitável. O mundo nunca foi tão rico", afirmou Ziegler em seu relatório.
Para o relatório, a expansão do etanol é "preocupante e pode ser a receita para o desastre". Seu temor é de que terras usadas para alimentos sejam dedicadas apenas para suprir usinas de biocombustíveis. Segundo a avaliação, a meta colocada pela União Européia (UE) para ter 10% de sua frota movida a etanol até 2020 vai exigir a importação do combustível dos países emergentes. O que o relator alerta, porém, é que a concorrência entre produtores de alimentos e de matérias-primas (commodities) para combustíveis pode ser prejudicial principalmente para as populações mais pobres.
Reviravolta Ziegler, porém, amenizou as críticas ao Brasil diante dos países da ONU. "A situação do Brasil é diferente da americana e européia", afirmou. "Em primeiro lugar, o Brasil não está queimando milho, mas cana. Em segundo lugar, o programa de etanol do País tem um forte componente social. Está beneficiando aqueles que estavam marginalizados", afirmou, lembrando que os programas estão permitindo que os pequenos produtos de mamona, babaçu e dendê consigam comercializar seus produtos.
Ele ainda elogiou os programas de etanol da Petrobras e do Pronaf, além de destacar a cooperação do Brasil com países latino-americanos e africanos para o desenvolvimento do etanol.
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Aagência Estado, 12/03/2008)