A produção de energia elétrica com painéis solares fotovoltaicos começa a ganhar atenção no Brasil. O grupo Zeppini, de São Bernardo do Campo (SP), um dos pioneiros na fabricação de motos elétricas, inicia, até o fim do mês, a comercialização de painéis fotovoltaicos flexíveis, tecnologia inédita no País. Uma fábrica de painéis também está nos planos.
No primeiro momento, a idéia é desenvolver sistemas de geração de energia limpa para estabelecimentos como condomínios residenciais, shopping centers, agências bancárias e hospitais. Os planos incluem, em um segundo momento, investimentos na fabricação dos painéis flexíveis na região do ABC. Antes, a empresa vai analisar a receptividade do mercado, uma vez que a produção de energia fotovoltaica é bastante incipiente no País - existem cerca de 12 megawatts instalados em comunidades isoladas e outros poucos 80 quilowatts integrados à rede elétrica. “A proposta comercial é vender eletricidade onde a instalação traga valor de mercado, como em condomínios ‘verdes’ e substituindo geradores a diesel, por exemplo”, diz o diretor-executivo da Zeppini, Paulo Fernandez.
Para isso, a empresa terá de criar a demanda partindo quase do zero. “Acreditamos que dentro de três a cinco anos teremos demanda suficiente para iniciar a produção das placas fotovoltaicas no País.” A empresa planeja também vender para o mercado externo.
O cartão de visitas da nova unidade de negócios da empresa, que tem investimento inicial de US$ 1 milhão, poderá ser visto na própria sede da Zeppini, em São Bernardo. A empresa está instalando 333 metros quadrados de painéis fotovoltaicos no telhado do prédio, o que permitirá a geração mensal de 2.100 quilowatts/hora para os escritórios administrativos.
Com faturamento de R$ 54 milhões em 2006, a Zeppini é uma empresa familiar com atuação nas áreas de metalurgia (Fundição Estrela) e equipamentos para postos de combustíveis (Zeppini Comercial). No ano passado, entrou no mercado de motos elétricas, com a marca Motor Z.
Os painéis flexíveis são a tecnologia mais recente em captação de energia solar, e podem ser aplicados em qualquer superfície. Assim, permitem a produção de energia elétrica no próprio local, que pode ser integrada à rede de distribuição. Diferentemente do uso do sol para aquecimento de água, a energia fotovoltaica é a conversão direta da luz solar em energia elétrica, a partir de células (painéis) feitos de silício.
CUSTOS
No mundo todo, há 3,2 mil megawatts instalados de geração fotovoltaica. O potencial brasileiro é ainda maior - estimado em 10 mil megawatts para sistemas conectados à rede elétrica -, mas hoje é subaproveitado.
Um dos maiores empecilhos para a disseminação da energia fotovoltaica é o preço alto: o custo do megawatt gira hoje em torno de US$ 240, enquanto a energia hidrelétrica custa US$ 50. Porém, estudos apontam que, em escala mundial, o preço da energia fotovoltaica irá se equiparar ao de fontes convencionais dentro de dez anos. Na contramão, a geração via fontes fósseis tende a se tornar mais cara.
“Com o petróleo acima de US$ 100 o barril, mesmo as empresas petrolíferas já estão se posicionando como grupos de energia e investindo em fontes renováveis. E quanto mais investimentos forem feitos e mais fábricas de equipamentos entrarem no mercado, mais o custo do megawatt tende a cair”, diz Marco Antonio Fujihara, diretor do Instituto Totum, consultoria especializada em sustentabilidade.
Essa perspectiva anima os investidores e já atrai a atenção de empresários como Eike Batista, que anunciou investimentos em uma fábrica de painéis solares no mês passado, em parceria com a companhia chinesa Yingli Solar. Em 2007, o mercado de energia solar registrou um crescimento de 56% em relação ao ano anterior.
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O Estado de São Paulo, 12/03/2008)