A Vale classificou de criminosa a ação de movimentos sociais na ferrovia Vitória-Minas na segunda-feira, que interrompeu o transporte de minério de ferro e de passageiros e fez um funcionário da mineradora refém.
A empresa conseguiu no final da tarde reintegração de posse da ferrovia e a liberação do refém, o maquinista Pedro de Jesus Simões, 63 anos, sem violência, segundo confirmou o assessor da Via Campesina por telefone à Reuters.
De acordo com o diretor de Assuntos Corporativos da Vale, Tito Martins, as ações são de "puro cunho político" e as reivindicações nada têm a ver com a Vale. Ele alertou que uma nova invasão está programada para o dia 15, na Ferrovia de Carajás.
"Claramente tem um movimento no Brasil se formando para usar a Vale como instrumento de pressão e divulgação", afirmou Martins a jornalistas.
"O que existe é um ato criminoso que está afetando a Vale e outras empresas", complementou, lembrando que empresas como Monsanto, Alcoa e Aracruz também sofreram ataques como os que vem sendo feitos nas operações da Vale.
Desde agosto de 2007 a Vale já registrou sete invasões, incluindo a desta segunda-feira, com prejuízos ainda não calculados pela companhia. No caso da ferrovia Vitória-Minas, a empresa deixou de transportar 300 mil toneladas de minério de ferro nesta segunda.
Martins afirmou que desta vez vai buscar ações judiciais mais abrangentes para responsabilizar as organizações envolvidas. No caso da Vitória-Minas, participaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Via Campesina e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
"Nós vamos tomar medidas judiciais no que for cabível e incabível, contra todos aqueles que possam ter relação direta ou indireta com o caso", antecipou. "No nosso entender são bandidos e estão querendo pertubar a ordem", declarou.
Mais cedo, a assessoria do MST informou que a ocupação da ferrovia foi motivada pelos impactos da construção da barragem da usina hidrelétrica de Aimorés na região.
A usina, localizada no rio Doce e com 330 megawats, fica na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais e é controlada pela Vale, com 51 por cento, e pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que detém o restante.
"...a construção da Barragem de Aimorés, pela Vale e Cemig, inviabiliza o sistema de esgoto da cidade, inundando 2 mil hectares de terra", acusou o MST em nota.
A Vale negou as acusações do MST. Segundo Martins, o projeto recebeu licença ambiental e como todos as demais unidades da Vale segue um padrão de excelência. "Se não estiver funcionando como deve, a gente fecha", garantiu.
Ele afirmou que não faz sentido a Vale tentar negociar com o MST, "esse não é o nosso papel", enfatizou, explicando que já alertou autoridades sobre a recente invasão e a planejada para o dia 15 de março.
Segundo a Vale, o consórcio Vale/Cemig investiu 30 milhões de reais na construção de uma rede de esgoto na região e a ligação com as residências ficou sob responsabilidade da Prefeitura de Resplendor, que estaria negociando essa ligação.
A empresa negou também as acusações de falhas no reassentamento, informando que as famílias retiradas da cidade de Itueta, local inundado, foram realocadas em Nova Itueta, onde foram construídas 300 casas para moradores e mais 135 para abrigar a população que não tinha residência anteriormente.
O porto de Tubarão é um dos mais importantes para a maior produtora mundial de minério de ferro e operou com estoques durante a interrupção da ferrovia.
Em novembro, a ferrovia Carajás, que liga a maior mina de minério de ferro da Vale a portos exportadores, foi interrompida por ocupação promovida por manifestantes do MST.
Empresa vai processar líderesDiretor de Assuntos Corporativos da Vale afirma que não negocia 'com bandidos'O diretor-executivo de Assuntos Corporativos e Energia da Vale, Tito Martins, acusou ontem o Movimento dos Sem-Terra (MST) de usar a empresa para garantir visibilidade política para as suas reivindicações. Ele disse que processará os líderes nacionais e estaduais do movimento, que nos últimos dias fizeram duas ações contra a mineradora - no sábado, depredaram uma unidade da ferro-Gusa no Maranhão; ontem, bloquearam a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM).
"Eles querem atingir a Vale para dar cunho político a um movimento que não reconhecemos como legítimo. Discordamos desses atos de banditismo e não negociamos com bandidos", declarou Martins, acrescentando que o departamento jurídico da empresa está estudando a melhor forma de processar os chefes do movimento no âmbito criminal e cível.
Na paralisação da ferrovia, o maquinista Pedro Jesus Simão, de 63 anos, teria sido impedido de deixar o vagão. No final do dia, quando a empresa já tinha obtido a ordem de reintegração de posse, os manifestantes liberaram a pista e o funcionário. "Não quiseram deixar comida. É um calorão insuportável e um momento muito tenso aqui", contou o maquinista, pelo rádio, ao centro de controle. Por nota, os manifestantes negaram ter retido Simão no local.
FAMÍLIASA Vale afirma que todas as famílias retiradas da região da Barragem de Aimorés - um dos motivos alegados pelo MST para a invasão de ontem - já foram reassentadas. "Até as pessoas que não tinham casa receberam o imóvel ou a opção de ganhar uma carta de crédito, se optasse por comprá-la em outro lugar", respondeu a diretora de energia, Vânia Somavilla. Segundo ela, a empresa construiu a estação de tratamento de esgoto, que está em fase de finalização. "Só faltam as ligações familiares", afirmou.
No sábado, cerca de 600 camponeses invadiram uma unidade da Ferro Gusa Carajás, empresa da Vale no Maranhão. Eles depredaram a sede da empresa, exigindo a paralisação de 71 fornos que prejudicariam a saúde de 1.800 assentados nas proximidades.
A mineradora disse ter informações de que, depois de paralisar a ferrovia, os manifestantes invadiriam a mina de Brucutu, uma das principais produtoras de minério da empresa na região. "Não temos como fazer nada baseado em rumores. A Justiça precisa dos nomes para agir", lamentou o diretor de assuntos corporativos.
(Reuters Brasil,
FGV, Estadão, 11/03/2008)