Agricultores relatam as perdas acumuladas desde dezembro. Ametista do Sul está prestes a recorrer ao decreto de emergência
A chuva que reapareceu ontem na maioria dos 52 municípios gaúchos atingidos pela estiagem não foi suficiente para atenuar os prejuízos no meio rural. Enquanto as prefeituras e a Defesa Civil/RS seguem quantificando as perdas acumuladas desde dezembro, a cada dia que passa os pequenos produtores tentam encontrar alternativas para administrar a miséria que se instalou nas propriedades. As expectativas não são favoráveis ao agricultor Antoninho Valdir de Lazzari, 47.
Morador de Linha São Roque, em Ametista do Sul, ele é um misto de tristeza e desesperança. Diariamente caminha de 6 a 8 km carregando 60 quilos de palha de milho nas costas para alimentar os 11 bovinos. 'Sem pasto, esta é a única maneira de matar a fome do rebanho.' Lazzari assegura ter perdido a noção do montante devido às instituições financeiras por conta de empréstimos contraídos para custeio de lavouras não colhidas. 'Cada vez devo mais. Começo a trabalhar antes do amanhecer e nunca descanso antes da noite. E mesmo assim não consigo pagar as dívidas.'
Com esta nova estiagem, ele perdeu 50% dos 8 hectares de milho, cujo plantio envolveu R$ 3,8 mil. Na cultura do feijão, a perda foi total.
Outro preocupado com o futuro é Sebastião Kanoff, 46, também de Linha São Roque. Ele vê a água do açude secando a cada dia e nem a chuva serve de alento. Ontem, ele parecia agoniado com o futuro incerto, pois o pouco que choveu não foi suficiente para fazer desaparecer as rachaduras que se formaram no chão tórrido. A continuar como está, o secretário municipal da Agricultura, Gilmar da Silva, deverá recorrer ao decreto de situação de emergência.
Já não há água para consumo humano nas localidades de São Valentim da Gruta e de Linha Alto Barreirinho. 'Alguns poços secaram e outros armazenam água imprópria para consumo humano', explica. Em função da chuva de ontem, o caminhão-pipa não operou. A previsão é de retomada hoje do abastecimento emergencial. O secretário adiantou que recorrerá ao Palácio Piratini para reivindicar a perfuração de poços artesianos. Ametista do Sul registrou perdas de 50% na safrinha do milho, de 30% de soja e de 20% de feijão.
(Por Luciamem Winck, Correio do Povo, 11/03/2008)