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mercado imobiliário
2008-03-11
Mesmo com os "janelões franceses" abertos para a marginal Pinheiros, os moradores do exclusivíssimo condomínio Parque Cidade Jardim não vão correr o risco de sentir o mau cheiro do rio. A corretora Norma* (nome fictício) garante que "os paisagistas planejaram uma faixa de jardim aromatizado, que atravessa a frente das torres e vai neutralizar o odor".

"Esquece o Pinheiros!", diz ela ao repórter, que se apresenta como virtual comprador de uma das 325 unidades do condomínio de nove torres, seis voltadas para o rio. "Você terá uma vista panorâmica, com tratamento acústico, a 50 metros de altura do asfalto: só verá o rio quem olhar para baixo."

Ou seja: a pessoa paga cerca de R$ 3 milhões por um apartamento de frente para a marginal, com a garantia de que não vai ver o rio, sentir seu cheiro nem ouvir o barulho do trânsito intenso das vias expressas.

Um dos empreendimentos mais comentados dos últimos tempos, o complexo de R$ 1,5 bilhão fica no bairro Cidade Jardim (zona oeste) e inclui aquele que já se anuncia "o shopping mais luxuoso do país", com lojas de grifes como Tiffany, Chanel e Rolex.

Os apartamentos têm entre 236 metros quadrados de área e 750 metros quadrados, e podem custar mais de R$ 10 milhões. Norma diz que 80% das unidades estão vendidas. A construtora JFHS não quis falar.

A paisagista do empreendimento, Maria João d'Orey, diz que a promessa de "aromatização" da corretora é um devaneio: "Como é que eu poderia aromatizar apenas um pedaço de ar? Estamos autorizados a usar o que for necessário, sem pensar em custos, mas dentro do possível."

No estande de vendas --que é uma espécie de réplica menorzinha da Casa Branca-- a corretora Norma explica que vai mostrar um apartamento decorado de tamanho médio, 394 metros quadrados, com "mobiliário inglês clássico".

Gente de muito dinheiro

O comprador de uma unidade ali é, segundo ela, "banqueiro, industrial, gente de muito dinheiro", que vai ter o privilégio de não precisar sair do Parque Cidade Jardim "nunca". Se quiser ir ao Fasano, desce no shopping; se quiser comprar "um chanelzinho", idem; se quiser dar uma volta entre palmeiras imperiais, desce para o jardim aromatizado. E, se quiser trabalhar, pode fazê-lo em uma das torres comerciais erguidas a três minutos dali, no mesmo complexo.

Um dos maiores trunfos do arsenal de venda de Norma é o esquema de segurança, que não pode ser revelado, "por questão de segurança". "O próprio comprador só vai saber quando vier morar aqui", ela diz, vendendo um item aterrorizante como se fosse o luxo dos luxos.

A visita começa: como se trata do que chamam de "apartamento de vivência", tudo é muito "real". Na copa, está servido um "breakfast" com diversos tipos de pão (de plástico); há roupas de grife com um ferro de passar e animais de estimação "naturalistas" deitados pelos cantos da casa.

De repente, quando a reportagem entra no quarto "rosinha" do bebê ("que vai ser menina"), um segurança aparece. Norma abaixa o tom de voz e explica que "eles só querem ver se está tudo bem". Afinal, o repórter poderia ser um seqüestrador, ou até mesmo alguém disposto a matá-la para levar o aparelho de DVD do quarto da empregada. "Nunca se sabe", afirma a corretora.

(Por PAULO SAMPAIO, Folha de S.Paulo, 10/03/2008)

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