As áreas protegidas da Amazônia contribuirão nas próximas décadas com uma redução de 1,8 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera, segundo pesquisa conjunta entre WWF, Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo mostra como essas áreas são importantes para amenizar o efeito estufa. Esse e outros levantamentos são cada vez mais importantes para se adequar as políticas públicas à preservação, mas nem sempre têm sido feitos ou utilizados pelo governo.
- Países emergentes não têm obrigatoriedade de fornecer inventários das emissões de CO2 ano a ano [segundo o Protocolo de Kioto]. Mas dentro de uma política de mudanças climáticas, que ainda está se estabelecendo no Brasil, é preciso que o país se conheça - comenta Karen Suassuna, analista em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.
Ela cita o estado de São Paulo como um bom exemplo de pesquisa e monitoramento aliados a políticas públicas:
- São Paulo foi um dos estados mais poluídos do Brasil. Cubatão era a cidade mais poluída do mundo, até se decidir investir pesadamente em políticas de controle e monitoramento. Sem conhecermos o que se emite, não é possível trabalhar para um ambiente melhor.
Já para os casos do desmatamento e do programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), o governo tem inventariado com sucesso.
- O Brasil é líder mundial nos levantamentos para rastrear desmatamento. É suficiente? Não. Mas já começamos muito melhor do que outros países. E por mais que haja crítica ao combate do desmatamento, sabemos que certamente todo ano dados serão divulgados - diz Claudio Maretti, superintendente de Conservação de Programas Regionais do WWF.
Maretti ainda lembra que nos últimos cinco anos passou a fazer parte do controle um alerta para as grandes áreas desmatadas:
- Com base nesses alertas, órgãos de fiscalização podem atuar. Isso também ajuda a identificar tendências de crescimento.
Para a implementação do programa Arpa também são necessárias as análises dessas tendências e das áreas em que a preservação se fará mais útil ou mais efetiva. Segundo Maretti, um mapa com análise dos biomas foi elaborado no ano passado e será divulgado em breve pelo governo. Por outro lado, ele lembra que a listagem de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente ainda está defasada.
Preservação contra o efeito estufa
Ainda em 2008, o Arpa deve incorporar mais alguns milhões de hectares, o que responderia por uma redução de outros 600 milhões de toneladas, além do 1,8 bilhão de toneladas da área já delimitada. Com isso, a contribuição de áreas preservadas nos próximos 40 anos pode chegar a 2,4 bilhões de toneladas. Hoje, dos 47 milhões de toneladas de carbono armazenadas na Amazônia, 4,5 bilhões são do Arpa - programa que começou em 2003, a partir de um acordo entre o governo brasileiro, o Banco Mundial e a WWF.
O Brasil amarga hoje um terrível quarto lugar entre os campeões de emissão de gases estufa.
- Os EUA são responsáveis por 15% das esmissões atuais globais; a China por 11%; a UE, com todos os seus países, por 10,1%; a Indonésia, 7%; o Brasil 5%; a Federação Russa, 4,5% e Índia 3,6% - explica Karen Suassuna.
As áreas protegidas são importantes não apenas pela captura do carbono, mas também por eviteram queimadas e desmatamento, hoje os grandes vilões das emissões brasileiras.
- Quando se derruba as árvores nativa, elas liberam seus estoques de carbono para a atmosfera, onde o carbono vai produzis o efeito estuda - explica o professor Enéas Salati, pesquisador da Fundação Brasileira para Desenvolvimento Sustentável. - Nas últimas décadas, a Amazônia foi desmatada em quase 20% de sua área. E o Brasil passou a ser o quarto emissor [de gases estufa] do planeta, apesar de ter a matriz energética limpa.
Segundo a WWF, o desmatamento e as queimadas correpondem por 2/3 das emissões brasileiras de CO2. A agricultura (pecuária, produção de arroz, adubação, entre outros) responde por 22% e o setor de energia 16%
(Catharina Epprecht, O Globo Online, 10/03/2008)