Até o final do ano, a Vale instalará equipamentos de controle de poluição nos 71 fornos de carvão da unidade Ferro Gusa Carajás, no Maranhão. O local foi invadido e depredado por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no último sábado (8), em protesto contra a poluição resultante da queima do carvão.
Em entrevista coletiva ontem (10), o presidente da Ferro Gusa Carajás, Pedro Gutemberg, informou que o empreendimento tem todas as licenças ambientais necessárias e é ambientalmente sustentável. O carvão vegetal queimado nos fornos, segundo ele, é proveniente de 40 mil hectares de eucaliptos plantados – outros 40 mil hectares são de mata nativa preservada.
“Estamos plenamente licenciados, não temos nenhum problema de licença ambiental. Mas a nossa empresa, até pelo caráter pioneiro desse empreendimento, vai buscar também soluções melhores para a questão da fumaça. Já temos dois protótipos que estão instalados nessa unidade e temos indicação de que 90% da fumaça são reduzidos com o uso dessa nova tecnologia. Só é preciso tempo para fazer a implementação desse protótipo em toda a unidade”, disse.
A empresa não informou o tipo de filtro a ser instalado, nem o custo. O diretor executivo de Assuntos Corporativos e de Energia da Vale, Tito Martins, admitiu até o fechamento da unidade, se ela não estivesse operando dentro da conformidade.
“Se nós chegarmos à conclusão de que a Ferro Gusa Carajás não está operando de acordo, nós fechamos. A operação está em conformidade com a legislação. Estamos buscando formas de minorar o que existe de fumaça lá, porque tem fumaça. Se um dia a empresa chegasse à conclusão de que aquilo não era o ideal para estar funcionando, ela iria até admitir fechar. Não é o caso hoje”, afirmou.
Martins informou que a companhia vai identificar e processar os líderes do MST, que chamou de “bandidos”. Na manhã de ontem (10), os integrantes do movimento ocuparam a Estrada de Ferro Vitória a Minas, no município de Resplendor (MG), onde mantiveram como refém um maquinista, liberado no final da tarde após decisão judicial que deu à Vale a reintegração de posse da área.
“Claramente, existe um movimento organizado que está voltado para atingir nossas áreas. Nós estamos muito preocupados, porque o movimento parece ter um plano de atingir a Vale. Parece-nos que é uma tentativa de uma nova bandeira, atingindo um empresa que hoje se preocupa cada vez mais com as questões ambientais”, disse.
Indagado se a empresa negociaria com os integrantes do MST, Martins disse que "não há nenhuma possibilidade, até porque não reconhecemos como legítimo o que eles reivindicam". E acrescentou: "Preocupa-nos muito a maneira como fizeram [a invasão]. Eles foram agressivos, nós consideramos banditismo o ato e não negociamos com bandidos".
As razões do MST para a invasão da Ferro Gusa Carajás foram defendidas no site do movimento (www.mst.org.br) como ações contra a poluição que afetaria 1.800 moradores de um assentamento localizado a 800 metros dos fornos de carvão – a Vale afirma que a distância é de 1,5 quilômetro. No texto na internet, o MST afirma que os fornos foram instalados há três anos e que o assentamento está no local há 12 anos. Cada forno, segundo o MST, tem capacidade para 160 metros cúbicos, o que seria 30 vezes superior ao dos fornos de carvoarias comuns.
O movimento alega ainda que a fumaça da queima do carvão está afetando a saúde dos moradores, principalmente crianças e idosos.
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Agência Brasil, 11/03/2008)