O Governo canadense anunciou na segunda-feira (10/03) que estabelecerá novas medidas para que a caça de focas seja menos cruel e evitar que os países europeus imponham o embargo à importação de peles desses animais. As autoridades canadenses também informaram que este ano será permitida a caça de 275 mil focas harpa, das quais 4.950 serão destinadas aos caçadores indígenas.
No ano passado, o país autorizou a caça de 270 mil focas. Segundo o Ministério de Pesca canadense, "o Governo adotou medidas para garantir que a caça continue sendo realizada de uma forma humana, adotando recomendações do Grupo Independente de Trabalho de Veterinários". As autoridades canadenses não especificaram os detalhes das medidas, mas o jornal "The Globe and Mail" informou hoje que as novas normas obrigarão os caçadores a cortar as artérias dos animais para assegurar que eles morram de forma rápida e reduzir, assim, seu sofrimento.
Em dezembro do ano passado, o Painel de Saúde e Bem-estar Animal da Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) divulgou os resultados de um estudo que tinha como objetivo avaliar se as focas poderiam ser mortas de forma rápida e efetiva sem que sentissem dor, medo e outros tipos de sofrimento evitáveis.
Os cientistas europeus concluíram que há formas de evitar o sofrimento, mas na prática nem sempre são aplicadas e esses animais morrem de forma lenta e agonizante. Organizações de defesa dos direitos animais aproveitam todos os anos a abertura da temporada de caça de focas no litoral atlântico canadense para protestar contra a prática, que consideram desumana e injustificada.
O estudo da EFSA será uma da peças básicas que os países da União Européia (UE) utilizarão para decidir, no final deste mês, se proibirão a importação de peles de focas, o que poderia destruir a caça comercial canadense. As novas medidas adotadas pelo Canadá para caçar focas se aproximam das recomendadas pelos cientistas europeus. Nos últimos anos, o Canadá lançou intensas campanhas de relações públicas na Europa para combater o que qualifica como "indústria de protestos" e o insaciável apetite das organizações ambientalistas para arrecadar dinheiro.
Até agora, os caçadores canadenses eram obrigados a comprovar que as focas estavam mortas antes de despelá-las, tocando os olhos do animal para observar algum tipo de reação. Mas este método em muitas ocasiões não pode ser usado pelas condições nas quais a caça é realizada. Apesar disso, o Governo canadense afirma que o 98% das focas são mortas sem crueldade. No entanto, estudos da organização IFAW, que protesta contra a caça de focas desde meados dos anos 60, indicam que até 42% dos animais mortos "provavelmente estavam conscientes quando foram despelados".
O ministro de Pesca canadense, Loyola Hearn, também afirmou em comunicado que o Canadá começou a avaliar o tamanho da população de focas harpa, antecipando a contagem em um ano. As organizações ambientalistas advertiram no passado que o nível de caça permitido pelo Canadá (cerca de 1.270.000 exemplares nos últimos quatro anos) pode ter conseqüências catastróficas para a espécie perante os efeitos do aquecimento global.
As focas harpa usam os gelos flutuantes do Atlântico para dar à luz suas crias, mas nos últimos anos as más condições do gelo no litoral atlântico canadense se traduziram em uma elevada mortalidade das mesmas, que constituem o grosso da caça canadense de focas.
(Yahoo Brasil, Ambiente Brasil, 11/03/2008)