O planejado incremento da produção de etanol derivado do milho nos Estados Unidos poderá causar um "desastre" ambiental para as espécies marinhas do Golfo do México, indica um estudo publicado na segunda-feira (10/03). Um aumento da produção de milho vai piorar a chamada "zona morta" do Golfo, uma área de baixo oxigênio onde há pouca vida marinha, disse Simon Donner, geógrafo da Universidade de British Columbia, no oeste do Canadá.
"A maioria dos organismos não pode sobreviver sem oxigênio suficiente", destacou Donner à AFP. "Todos os organismos que vivem no fundo e que não podem se deslocar provavelmente morrerão, enquanto os peixes migrarão se puderem".
Donner e Chris Kucharik, da Universidade do Wisconsin, usaram modelos informatizados que revelam que o cultivo de milho necessário para cumprir as metas americanas em matéria de biocombustíveis para 2022 causará um incremento de 10 a 34% da contaminação por nitrogênio nos rios Mississippi e Atchafalaya, que desembocam no Golfo do México.
O estudo sobre o assunto aparece na edição on-line dos Anais do National Journal of Sciences. A zona morta do Golfo, medida pela primeira vez há cerca de 30 anos, já cobre hoje uma área de 20.000 km quadrados a cada verão no Golfo, entre os territórios de Estados Unidos, México e Cuba. A zona morta é causada indiretamente por fertilizantes baseados no nitrogênio usados para a agricultura em Estados como Illinois, Iowa, Nebraska e Wisconsin. O excesso de nitrogênio levado para o Mississippi se converte em nitrato, o que alimenta o crescimento de algas. Quando as algas morrem, caem no fundo do rio e o processo de decomposição reduz o oxigênio na água, matando outras formas de vida.
Donner destacou que os Estados Unidos já produzem quase a metade do milho mundial, em parte para consumo humano, mas especialmente para alimentar gado e fabricar etanol. Os autores afirmam que a única maneira de controlar a contaminação por nitratos e cumprir as metas de produção de etanol é deixar de alimentar o gado com grãos ou mudando drasticamente as técnicas agrícolas.
(AFP, 11/03/2008)