Uma grande variedade de produtos farmacêuticos - entre eles antibióticos, anticonvulsivos, estabilizadores de humor e hormônios - foi encontrada no abastecimento de água potável de pelo menos 41 milhões de norte-americanos, revelou uma investigação da Associated Press (AP). As concentrações desses produtos são muito reduzidas, bem abaixo de doses médicas, e fornecedores insistem em que a água é segura. Mas a presença de tantas drogas numa parte tão grande da água potável dos EUA aumenta os temores dos cientistas sobre as conseqüências para a saúde a longo prazo.
Em cinco meses de investigação, a pesquisa descobriu que drogas foram detectadas nos suprimentos de água potável de 24 grandes áreas metropolitanas - do sul da Califórnia ao norte de Nova Jersey, de Detroit a Louisville, Kentucky. Os fornecedores raramente divulgam resultados de testes para a detecção de produtos farmacêuticos, a menos que sejam pressionados. O diretor de um grupo que representa grandes fornecedores da Califórnia afirmou que o público "não sabe como interpretar as informações" e pode ficar alarmado sem necessidade.
Os medicamentos não são totalmente absorvidos pelo corpo e parte deles vai para a água do esgoto, que volta aos consumidores depois de passar por tratamento - que não remove todos os resíduos das drogas. Funcionários da indústria farmacêutica afirmam que a contaminação da água potável não é problema.
Impactos sobre a saúde
Porém, em uma conferência em meados do ano passado, a diretora de tecnologia ambiental da companhia farmacêutica Merck, Mary Buzby afirmou que "produtos farmacêuticos estão sendo detectados no ambiente e há temores genuínos de que esses compostos, nas pequenas concentrações em que se encontram, podem ter impactos sobre a saúde humana".
O governo norte-americano não exige teste em laboratório e não impõe limites seguros à presença de produtos farmacêuticos na água. Dos 62 grandes fornecedores consultados pela AP, apenas 28 trabalhavam com água potável submetida a testes laboratoriais para detectar esse tipo de substância.
Pesquisas em laboratório mostraram que pequenas quantidades de medicamentos afetaram células embrionárias de rins humanos, células sanguíneas humanas e células de câncer de mama humano. As células cancerosas proliferaram rápido demais, as renais cresceram muito devagar e as sanguíneas mostraram atividade biológica associada à inflamação. Outros estudos mostram impactos na natureza. Peixes machos estão criando proteínas de gema de ovo, um processo normalmente restrito às fêmeas.
(Agencia Estado, A Tarde, 11/03/2008)