O tradicional restaurante Caruso, situado no Grand Hotel Vesúvio, em Nápoles, fechou as portas neste fim de semana, depois que a crise gerada pelo problema do acúmulo de lixo nas ruas da cidade espantou os turistas. Apesar da localização privilegiada, com vista panorâmica da Baía de Nápoles, nos últimos meses, o restaurante atendia menos de dez clientes por dia, em média, apesar de ter capacidade para mais de 160 pessoas.
"Os clientes me telefonam perguntando se tem lixo na rua", disse à BBC Brasil a diretora do hotel, Maria Claudia Cardinale. "Eu digo que no centro histórico as ruas e calçadas estão limpas." "Aqui, não vemos ratos correndo e nem sentimos o cheiro do lixo", acrescentou. "Mas sei que o problema é grave fora do centro da cidade."
"Foi uma decisão dolorida", contou Maria Claudia. "Mas não podíamos continuar a atender apenas duas pessoas." O Hotel Vesúvio tem hoje apenas a metade da ocupação dos quartos que tinha no ano passado, no mesmo período. A situação se repete em toda a rede hoteleira da cidade. As reservas caíram em 40% para o feriado de Páscoa e para as férias de verão, em agosto, como conseqüência da crise do lixo em Nápoles.
Tempos áureos
O último jantar do restaurante Caruso teve a presença de 70 pessoas, das quais 40 pertenciam a um único grupo que decidiu antecipar a reserva ao saber do iminente fechamento. Nos tempos áureos, o ambiente requintado do restaurante, inaugurado em 1990, era disputado por presidentes, reis e artistas, como Bill Clinton, Juan Carlos de Borbón, Tom Cruise e Luciano Pavarotti. Sofia Loren tinha sempre uma mesa reservada.
Agora, o terraço no alto do hotel vai ser usado apenas para eventos especiais. O serviço de restaurante foi transferido para uma sala no primeiro andar do prédio, com apenas 20 mesas. A diretora do hotel espera que o problema do lixo em Nápoles seja resolvido em breve e que o Caruso possa voltar a receber seus ilustres clientes. "O fechamento do Caruso é temporário, mas não posso dizer por quanto tempo", disse Maria Claudia. "Isso não depende de nós."
"Recebemos mensagens de solidariedade de todo o mundo, mas a minha vai para os pequenos negociantes que também estão sofrendo e fechando as portas no anonimato", acrescentou. Milhares de toneladas de lixo se acumularam nas ruas de Nápoles no início do ano, porque os lixeiros estavam em greve e os depósitos da cidade haviam alcançado o limite máximo.
Segundo especialistas, a origem do problema é que a máfia napolitana transformou o lixo em um negócio altamente lucrativo. A Camorra sabotou todas as tentativas de construção de incineradores mais modernos e deixou a região totalmente dependente de depósitos de lixo, o que gerou uma crise que ainda não foi solucionada pelas autoridades italianas.
(Por Guilherme Aquino, BBC Brasil, 11/03/2008)