Estado dobrou produção nos últimos 5 anos e produtores reclamam da indiferença do consumidor nacionalA produção de ostras em Santa Catarina cresceu 25% no ano passado e chegou a 3 milhões de dúzias. O Estado responde por 90% da produção brasileira e, nos últimos cinco anos, dobrou a quantidade vendida no mercado. Apesar da boa safra de 2007, os preços não acompanharam o aumento nos custos da produção. Os produtores querem exportar, pois alegam que o consumidor brasileiro é indiferente à excelente qualidade da ostra nacional. A exemplo do que ocorre com as fazendas de gado, as fazendas do mar também enfrentam problemas com as barreiras sanitárias internacionais. A rastreabilidade que os europeus exigem dos pecuaristas também é cobrada dos produtores de ostra.
"A diferença é que estamos avançando rapidamente no controle da produção do molusco", diz o engenheiro agrônomo Alex Alves dos Santos, extensionista em Maricultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Desde 2006, o órgão e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desenvolvem um projeto de certificação da qualidade das ostras de Florianópolis, que produz 90% do total do Estado.
Quando o programa estiver concluído, o consumidor poderá verificar a procedência da ostra pela internet e observar detalhes do manejo. Para se cadastrar, o produtor deve atender a um conjunto de normas, avaliadas por um comitê responsável pelo fornecimento do selo. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca do governo federal darão suporte ao projeto.
De acordo com Santos, que coordena o comitê, ao aderir ao programa o maricultor recebe uma cartilha com os procedimentos para se adequar às normas sanitárias. A certificação é boa para o produtor, que aumenta o controle sobre o processo produtivo e pode reduzir custos. Também é positivo para o consumidor, que passa a ter maior segurança alimentar.
Não representa, porém, garantia de exportação. Para isso, segundo o agrônomo, é preciso que as fazendas instalem tanques depuradores. "Apesar de fazermos o monitoramento da qualidade da água e da carne do molusco, o mercado externo exige a passagem da ostra pelos tanques." Falta ainda aprovar uma legislação sanitária específica para essa produção. "Isso está sendo cuidado pela Secretaria da Pesca", diz Santos.
Em Florianópolis, a maioria dos 129 produtores está em processo de certificação. Eles esperam obter também um selo de origem da ostra local, da espécie crassostrea gigas, originária do Pacífico. O selo vai diferenciar a ostra de Florianópolis de outras cultivadas no País.
"O regime alimentar é diferenciado por causa das condições especiais de nossas baías", diz o agrônomo. A faixa de mar entre o continente e a Ilha de Santa Catarina tem águas com temperatura mais alta que em mar aberto. Os ventos e o fluxo da maré levam ao interior da baía as microalgas e outros nutrientes das ostras. As linhas de bóias desenham diagramas no mar e identificam as fazendas. Na corda que une as bóias são penduradas as "lanternas", o viveiro das ostras.
LABORATÓRIOO maricultor Paulo Constantino, de 52 anos, tem 4 milhões de ostrinhas (sementes) em crescimento ou engorda sob as águas calmas da baía Sul, no distrito de Ribeirão da Ilha. Descontadas as perdas, que chegam a 50%, ele colhe 12 mil dúzias de ostras por mês.
Quando começou, há dez anos, ele colocava no mar 500 mil sementes. Paulistano radicado em Florianópolis, foi Constantino quem abriu o mercado de São Paulo para a ostra catarinense. "Comecei vendendo a um sacolão da Vila Madalena."
A Fazenda Marítima Ostravagante é um dos maiores criatórios do Estado com inscrição no Serviço de Inspeção Federal (SIF) e emprega 18 pessoas. Elas fabricam os viveiros, controlam o crescimento das ostras e fazem a colheita com um trimarã - espécie de balsa. Antes de serem embalados, os moluscos passam por um rigoroso processo de limpeza, que inclui a retirada das cracas e outros moluscos que se fixam nas ostras e a lavagem com solução de água e cloro.
A produção é acondicionada em caixas de isopor com gelo e segue para outros Estados de avião. Os cuidados são necessários para que o molusco se mantenha vivo pelo menos por três dias. Para São Paulo, que absorve 80% da produção da fazenda, o transporte é feito também por terra, em veículo refrigerado.
As sementes são produzidas no laboratório de moluscos marinhos da UFSC. Constantino instalou um minilaboratório para fazer o assentamento remoto das larvas e produzir sua própria semente.
As ostras já representaram 70% das cargas embarcadas no aeroporto de Florianópolis. O custo alto reduziu essa opção de transporte. "Se aqui vendo a R$ 7,50 a dúzia, lá fora o custo sobe para R$ 10,50, por causa do frete." Por isso, Constantino se especializou na ostra baby, molusco precoce, porém mais tenro e suculento. A produção leva seis meses, ante oito a nove meses da adulta, e ocupa menos espaço no transporte. "É o que mais vendo em São Paulo."
A fazenda ocupa 2 hectares do mar e tem capacidade para dobrar a produção. Constantino está pronto para exportar e recebeu consultas de vários países da Europa. Seu objetivo é entrar na França, maior importador de ostras. O que falta são ajustes na legislação. "É preciso o governo fazer a parte dele."
Para Santos, a adesão ao programa de controle permitirá a produção certificada no volume necessário para exportar. Ele acredita que em três a cinco anos a ostra de Santa Catarina estará nos cardápios dos melhores restaurantes do mundo.
(O Estado de S. Paulo,
FGV, 09/03/2008)