Ele defende que não existe quem mais se preocupe com a preservação do meio ambiente que as empresas do setor no qual trabalha. Acredita no crescimento, nos lucros, na tecnologia de ponta e na mão-de-obra qualificada. Ao ocupar, pela segunda vez consecutiva, a presidência de uma das entidades de classe mais poderosas do Estado de Santa Catarina, incentiva o que muitos condenam: o reflorestamento.
Flávio José Martins, 63 anos, casado e residente no Bairro São José, em Fraiburgo, no Meio-Oeste, é advogado, contador e pós-graduado em Gestão e Direito Ambiental. Foi presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Fraiburgo em duas gestões, membro titular do 5º Tribunal do Conselho de Ética da OAB/SC e membro do Tribunal de Ética e Disciplina da Seccional da mesma instituição.
Foi diretor-administrativo e comercial da Trombini Papel e Embalagens, com unidades nos três estados do Sul. Executivo responsável pela unidade industrial do Grupo Trombini em Fraiburgo durante 35 anos, adquirindo larga experiência nos setores florestal, fabricação de celulose e papel e meio ambiente.
Sócio majoritário e advogado-executivo de Flávio Martins Advogados Associados, com trabalhos dirigidos à assistência jurídica empresarial com ênfase tributária e ambiental. Cidadão Honorário da cidade onde reside, Flávio inicia o seu segundo mandato, e fica até 2011 na presidência do Sindicato das Indústrias de Celulose e Papel de Santa Catarina (Sinpesc), que envolve 30 empresas responsáveis por um dos maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do Estado.
Na entrevista a seguir, ele faz um apanhado do setor, sua realidade, números e perspectivas. Defende o reflorestamento aliado à mata nativa, critica quem age diferente, sugere espaço às pequenas empresas, e garante de boca cheia: plantar árvores rende muito dinheiro.
Diário catarinense - Quem o Sinpesc representa em Santa Catarina, e qual o tamanho dessa representatividade?
Flávio José Martins - O Sinpesc congrega todas as fábricas de papel, celulose, papelão e artefatos em Santa Catarina. São aproximadamente 30 empresas, que geram 16 mil empregos diretos, a mesma quantidade de indiretos e representam 95% do segmento no Estado. Temos a maior produção de celulose de fibra longa - papel para embalagens, como caixas e sacos industriais - do Brasil, respondendo por 50% da produção nacional. Faturamos R$ 2 bilhões e plantamos florestas em 110 mil hectares, ajudando o Estado, com 500 mil hectares destinados à atividade, a ter o terceiro maior plantio do país.
DC - Como está o setor? Os investimentos e a quantidade de florestas são suficientes?
Martins - No Brasil, existem 220 empresas em 450 municípios de 17 estados, e são gerados 100 mil empregos diretos e outros 500 mil indiretos. Crescemos 5,5% na produção de celulose, para 11,8 milhões de toneladas, e 2,8% em papel, passando para 8,7 milhões de toneladas. Devemos investir US$ 14 bilhões nos próximos anos, contratamos mais que demitimos, lucramos ano a ano, e não conheço casos de falência. Exige-se um crescimento anual de 5%, mas temos déficit de produção. É preciso plantar mais árvores para acompanharmos o mercado interno, que consome 80% do que produzimos - existem grandes empresas que demandam muito, mas não produzem madeira - e atendermos também o externo, que compra os outros 20%, principalmente países da América Latina.
DC - A rotatividade de uma floresta no Brasil gira em torno de 15 anos. Vale a pena investir no plantio de árvores, mesmo que os resultados demorem?
Martins - É um negócio extremamente rentável. Plantar árvores dá muito mais dinheiro que plantar milho, feijão e maçã. O Brasil tem uma grande vantagem em relação a outros países produtores: na Escandinávia, por exemplo, a rotatividade de uma floresta é de 70 anos, para uma produção anual de 3,6 metros cúbicos de madeira por hectare. No Brasil, a rotatividade é de 15 anos para uma produção, também anual, de 30 metros cúbicos no mesmo espaço. Em Santa Catarina, existem florestas atingindo até 50 metros cúbicos. Além dessa produtividade maior, é preciso destacar a grande fonte de energia que temos. Para se ter uma idéia, 81% da energia consumida no setor vem de recursos renováveis.
DC - A baixa cotação do dólar prejudica o setor?
Martins - O câmbio tem atrapalhado bastante nas exportações, mas como o mercado externo representa 20% dos nossos negócios, não dá para dizer que estamos perdendo, mas poderíamos ganhar mais.
DC - Muitas são as críticas, principalmente por parte de ambientalistas, com relação ao reflorestamento. O que o setor faz em prol da natureza?
Martins - Posso garantir que não existe quem se preocupe mais com a preservação do meio ambiente que o setor de papel e celulose. Dos 5,4 milhões de hectares plantados no Brasil, 3,8 milhões são preservados. Em Santa Catarina, dos 1,7 milhão de hectares com eucalipto e pinus, 1,4 milhão têm certificação internacional, que atesta todo o comprometimento ambiental, social e trabalhista por parte das empresas, além do relacionamento harmonioso entre áreas nativas e plantadas. Existem inconseqüentes e aproveitadores que desmatam para reflorestar. Nosso setor é totalmente contra isso, e não pega um único galho de árvore nativa. Tudo o que utilizamos foi plantado para aquele fim.
DC - O senhor pretende dar espaço às pequenas empresas, com baixas produções. O que o setor ganha com essa inclusão?
Martins - Em números, absolutamente nada. A idéia de agregar todos os segmentos do setor tem uma finalidade social, para que as pequenas empresas também tenham representatividade e possam capacitar seus trabalhadores. Também será importante para termos dados estatísticos mais precisos. Hoje estamos em 30 empresas, mas temos potencial para 120.
(Por Pablo Gomes, Diário Catarinense,
FGV, 09/03/2008)